segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A Vulnerabilidade Do Toxicodependente Ao HIV




Em homenagem ao dia mundial da luta contra a AIDS, vou publicar um post retirado da minha tese de mestrado. Defendi a dissertação "Crenças, comportamentos, atitudes e status serológico ao VIH\SIDA em dependentes químicos" na Universidade do Porto. Os resultados evidenciaram que, apesar de conhecer e compreender os riscos inerentes ao comportamento sexual e ao consumo injetável, mesmo assim sua prática continua nestas populações.

Aqui um post específico sobre a vulnerabilidade dos dependentes químicos ao HIV, de minha autoria.

"A vulnerabilidade individual da população toxicodependente ao VIH é face importante de qualquer análise sobre a alta prevalência do vírus nestes indivíduos, consumidores endovenosos ou não. Esta vulnerabilidade depende do comportamento individual e compartilhado que, por sua vez, depende de atitudes, práticas e conhecimentos individuais e do grupo. Ignorância quanto aos riscos do consumo endovenoso, por exemplo, especialmente no que tange à transmissão do vírus VIH ou pouca preocupação quanto a estes riscos criam uma vulnerabilidade psicológica que pode levar à participação em práticas de consumo perigosas, que aumentam o risco de transmissão do vírus. O grau de dependência, e portanto, de severidade da síndrome de abstinência afecta a habilidade do indivíduo em praticar seu consumo de forma segura (WHO, 2005). O grau de dependência também é causa da marginalização destes indivíduos, levando-os a cometer actos de risco para obter a substância como prostituição e relações sexuais desprotegidas. Assim sendo, conhecer para actuar em determinantes individuais de vulnerabilidade ao VIH entre os usuários de drogas, crenças e atitudes em relação ao VIH/SIDA torna-se um importante aspecto na prevenção da epidemia.



Os toxicodependentes, apresentam aspectos de organização social que podem aumentar a vulnerabilidade à infecção pelo VIH. Os consumidores de substâncias estão em geral socialmente marginalizados, o que leva a formação de subculturas da toxicodependência, alienadas da comunidade principal. Estes indivíduos têm pouco acesso ou não confiam nas estruturas formais de saúde, não recebendo conhecimentos transmitidos por estas instituições, o que aumenta sua vulnerabilidade ao vírus. O estigma social e legal experimentado pela vasta maioria de consumidores de substâncias ilícitas faz com que grande parte de suas vidas ocorra escondida da comunidade, criando dificuldades na criação de programas específicos e dificultando o acesso para o envolvimento nas actividades protectoras da mesma (WHO, 2005).


Teorias sociológicas postulam que a sociedade é fragmentada em pequenas subculturas e que são os membros pertencentes ao meio do indivíduo, o grupo de pares no qual a pessoa se identifica como parte, que têm a mais significativa influência no comportamento individual (King, 1999). Normas sociais, critérios religiosos e as relações de poder entre os sexos e entre os pares infundem significado no comportamento, moderando a permissão a mudanças, positivas ou negativas. Uma forma ideal de comunicação, adequada ao trabalho de prevenção, seria a que personaliza e combina a mensagem da prevenção para uma audiência específica, toxicodependentes, com a finalidade de provocar a mudança comportamental (Pandey, 2005).


Nos últimos anos, entretanto, pesquisas sobre a organização da rede social de utilizadores de drogas injectáveis evidenciaram resultados provocativos. Estes estudos contradizem directamente a visão do usuário de drogas como isolado socialmente de todas as influências a não ser as de outros usuários. Estereótipos negativos dos consumidores de substâncias nutrem a noção de que, motivados única e exclusivamente pela necessidade pungente de obter uma dose, estes indivíduos inevitavelmente rompem todos os laços sociais. Estudos recentes revelaram que muitos consumidores endovenosos do sexo masculino mantêm longos relacionamentos amorosos com mulheres que não injectam drogas, enlaçando este homem, mesmo que frouxamente, a uma rede social maior, que não é composta exclusivamente por usuários de drogas (Wermuth, Ham, & Robbins, 1992; Auerbach, Wypijewska & Brodie, 1994)."

Referências

Auerbach, J. D., Wypijewska, C. & Brodie, H. K. H. (Eds). (1994). AIDS and Behavior –An Integrated Approach. Washington, D. C., E. U. A.: National Academy Press.
 
Becker, M., & Joseph, J. (1988). AIDS and behavioral change to reduce risk: a review. American Journal of Public Health, 78 (4), 394-410 DOI: 10.2105/AJPH.78.4.394
 
King R. (1999). Sexual Behaviour Change for HIV: Where have Theories Taken Us? Genebra, Suíça: UNAIDS.
 
Pandey, I. (2005). Effective Communication in HIV/AIDS Prevention in India. Dissertação de mestrado em Business Administration não publicada. International Development Department, School of Public Policy, MBA Public Service (International Stream). Birmingham, Reino Unido.
 
Wermuth, L., Ham, J., & Robbins, R. (1992). Women don’t wear condoms: AIDS risk among sexual partners of IV drugs users. In J. Huber & B. Schneider (Eds.), The Social Context of AIDS (pp. 72-94). Newbury Park, C. A., E. U. A.: Sage.
 
WHO (2005). Policy and Programming Guide for HIV/AIDS Prevention and Care Among Injecting Drug Users. Genebra, Suíça: WHO.

ResearchBlogging.org

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domingo, 29 de novembro de 2009

História de superação das drogas II

Pelo que me parece há no momento marketing sobre uma novela que esta ou estara no ar no Brasil que se chama Viver a Vida, na qual o tema é superação. Não sei nada sobre o assunto pois estou a morar fora do país desde 2005. O que sei é que tenho recebido recentemente inúmeros links com histórias de pessoas reais que têm lutado e vencido doenças e tragédias pessoais. Independentemente do porquê elas estão a circular na internet no momento, acredito que estas histórias têm seu lugar como textos de motivação e por isso resolvi lhes dar espaço neste blog. Hoje recebi estas histórias que estão em um site do portal Globo.






sáb, 24/10/09por TV Globo
categoria Drogas
tags Rosalina Silva
Rosalina tinha uma relação muito difícil com a sua família. Sofreu abusos por parte de seu pai, que também não a deixava estudar, pois achava que mulher só servia para ser dona de casa e esposa. A mãe era omissa e isso só dificultava sua vida. Quando seus pais se separaram, Rosalina começou a estudar, mas logo depois eles reataram o casamento e ela foi tirada da escola. Aos 13 anos de idade, começou a namorar um rapaz de 21 anos. Com ele começou a fumar, beber e, com 17 anos, ficou grávida. Casaram e tiveram 3 filhas. Depois de um tempo separaram e Rosalina começou a usar drogas pesadas, casou de novo e através de uma amiga, conheceu a heroína. Gastava todo o seu dinheiro com drogas, vendia tudo que possuía e vivia alcoolizada. Viu muitos amigos morrerem de overdose, se envolveu com traficantes e sua vida começou a ser destruída pelo vício. Aos 40 anos de idade, sua netinha disse que, toda vez que ia visitá-la, ela estava bêbada e isso a deixava muito triste. Foi nesse momento que Rosalina reconheceu que precisava de tratamento. Foi um processo muito difícil, mas com a sua força de vontade e determinação, Rosalina conseguiu se livrar das drogas. Hoje, ela escreve poesias e desenha profissionalmente; já trabalhou com cinema, teatro e fez muitos cursos profissionalizantes, inclusive voltados para tratamento de dependentes químicos.

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sábado, 28 de novembro de 2009

Uma visão artística da dependência química e da recuperação

Quando morei em Portugal, a novela da SIC Vingaça estava no ar. Era até divertida, mas perdi muitos capítulos e nem mesmo sei como terminou (se alguém assistiu e quiser me iluminar, fique a vontade para escrever um comentário).
Lembro-me que a trilha sonora era muito boa e comprei o CD. Nele estava uma música do Blue October (era tema do Rodrigo Lacerda!) que nunca tinha ouvido, que trata da toxicodependência de uma forma muito profunda.

Geralmente quem não está diretamente envolvido na problemática e no tratamento de toxicodependentes rapidamente se esquece, em meio à criminalidade e aos comportamentos antissociais, que eles também sofrem. Todos neste contexto sofrem: a família, a sociedade e o usuário. A compulsão pela substância acaba por consumí-lo numa espiral que, embora o paciente veja onde vai, não consegue pará-la. E é por isso que gosto muito da música a seguir, que mostra a dor dele (como dependente) e a que causa à mãe.

A letra, vídeo e tradução para o português vão abaixo.

Hate Me - Blue October




I have to block out thoughts of you so I don't lose my head
They crawl in like a cockroach leaving babies in my bed
Dropping little reels of tape to remind me that I'm alone
Playing movies in my head that make a porno feel like home
There's a burning in my pride, a nervous bleeding in my brain
An ounce of peace is all I want for you. Will you never call again?
And will you never say that you love me just to put it in my face?
And will you never try to reach me? It is I that wanted space

Hate me today
Hate me tomorrow
Hate me so you can finally see what's good for you

I'm sober now for 3 whole months it's one accomplishment that you helped me with
The one thing that always tore us apart is the one thing I won't touch again
In a sick way I want to thank you for holding my head up late at night
While I was busy waging wars on myself, you were trying to stop the fight
You never doubted my warped opinions on things like suicidal hate
You made me compliment myself when it was way too hard to take
So I'll drive so fucking far away that I never cross your mind
And do whatever it takes in your heart to leave me behind

Hate me today
Hate me tomorrow
Hate me for all the things I didn't do for you

Hate me in ways
Yeah ways hard to swallow
Hate me so you can finally see what's good for you

And with a sad heart I say bye to you and wave
Kicking shadows on the street for every mistake that I had made
And like a baby boy I never was a man
Until I saw your blue eyes crying and I held your face in my hand
And then I fell down yelling "make it go away!"
Just make a smile come back and shine just like it used to be
And then she whispered "How can you do this to me?"

Hate me today
Hate me tomorrow
Hate me for all the things I didn't do for you

Hate me in ways
Yeah ways hard to swallow
Hate me so you can finally see what's good for you


Tradução:

Odeie-me (Blue October)


Eu tenho que bloquear pensamentos sobre você para não peder a cabeça
Eles rastejam em mim como uma barata a deixar ovos em minha cama
Deixo cair pequenas rodas de fita de vídeo para me lembrar que estou sozinho
A passar filmes na minha cabeça que fazem com que um pornô sinta-se em casa
Há um queimor em meu orgulho, uma hemorragia nervosa no meu cérebro
Um pouco de paz é tudo que eu quero para você. Você nunca mais vai ligar?
E você nunca mais vai dizer que me ama, só para me jogar na cara?
E você nunca mais tentará se aproximar de mim? Era eu que queria espaço

Odeie-me hoje
Odeie-me amanhã
Odeie-me para que eu finalmente veja o que é bom para você

Estou sóbrio agora desde há 3 meses e foi algo que você me ajudou a conquistar
A única coisa que nos separava é a coisa que nunca mais vou tocar
De um jeito doente eu quero agradecer-te por ter segurado minha cabeça levantada tão tarde da noite
Enquanto estava ocupado fazendo guerras contra mim mesmo, você estava a tentar parar o conflito
Você nunca duvidou das minhas opiniões torpes sobre coisas como o suicídio por ódio
Você fez com que eu me elogiasse quando tudo era demais para aguentar
Então eu vou dirigir para muito longe daqui que eu nunca mais estarei na sua mente
E faça o que for preciso no seu coração para que ele me deixe para trás

Odeie-me hoje
Odeie-me amanhã
Odeie-me por todas as coisas que não fiz por você

Odeie-me de jeitos
Jeitos difíceis de engolir
Odeie-me para que você finalmente veja o que é bom para você

E com um coração triste eu tenho que te dizer adeus e acenar
Chutando sombras na rua por cada erro que cometi
E como um bebê eu nunca fui um homem
Até que vi seus olhos azuis a chorar e segurei seu rosto em minha mão
E caí ao chão a gritar “faça isso desaparecer!”
Apenas faça com que um sorriso volte e brilhe como constumava ser
E então ela suspirou “Como podes fazer isso comigo?"

Odeie-me hoje
Odeie-me amanhã
Odeie-me por todas as coisas que não fiz por você

Odeie-me de jeitos
Jeitos difíceis de engolir
Odeie-me para que você finalmente veja o que é bom para você

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sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Para parar de fumar - site ajuda com técnicas de relaxamento e motivação

O site "Eu vou parar de fumar" é completamente dedicado à luta contra o tabagismo e traz informações e técnicas de relaxamento (que podem ser transferidas para seu computador em formato pdf) para auxiliar aqueles que buscam parar ou reduzir o consumo de cigarros.
Acredito que vale a visita!

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A (quase exclusiva) abordagem biológica das doenças mentais: até quando?

Iatrofobia - medo de médicos



Aposentado inglês (pensionista em Portugal) com fobia de médicos mata-se por medo de mancha inocente que pensou ser câncer (cancro em Portugal)

Pensioner with doctor phobia killed himself over harmless spot he thought was cancer (Daily Mail)

Um aposentado com fobia de médicos suicidou-se a caminho de seu médico de família após convencer-se de que tinha câncer. O senhor Dart, de 76 anos estava com tanto medo de ir à clínica que visitou um bar (pub), bebendo muito antes de avisar ao garçom que tinha câncer e iria se matar. Após sua família dar o alarme de que o senhor Dart tinha desaparecido, 24 horas depois seu corpo foi encontrado a flutuar em um rio.
 
Iatrofobia - medo de médicos
 
Iatrofobia é uma palavra que deriva do grego (assim como para todas as fobias) que designa medo de médicos, medo de ir ao médico, medo de visitas médicas.
A iatrofobia é mais uma fobia específica, termo genérico destinado a todos os tipos de transtornos de ansiedade que resultam de medo irracional relacionado à exposição a objetos ou situações específicas. Como resultado, a pessoa que sofre da fobia tende a evitar ativamente qualquer contato com os objetos e situações que estimulam a ansiedade.
 
O medo e a ansiedade podem ser iniciados tanto pela presença do objeto ou situação quanto em antecipação (como no caso descrito acima) a eles. A pessoa sempre sofre de desconforto quando encontra o gatilho de seu medo e em casos mais graves pode apresentar ataques de pânico. Embora o indivíduo conheça a causa de seu desconforto e muitas vezes compreenda que seu medo é "irracional", é lhe impossível evitar a manifestação psicológica e somática de seu desconforto.
 
No caso específico da iatrofobia, diversas pessoas apresentam desconforto na presença do médico (conhecida no meio médico como Síndrome do Jaleco Branco ou Síndrome da Bata Branca em Portugal). Este desconforto deriva em geral da longa espera, do ambiente estéril e com cheiro de desinfetante químico, e da possibilidade de procedimentos dolorosos. Estes fatores são suficientes para causar ansiedade em quase todos e muitos chegam a apresentar manifestações somáticas como sudorese, aumento da pressão arterial e taquicardia.
 
Os sinais abaixo denotam um quadro de ansiedade mais pervasivo, que pode limitar o acesso do indivíduo aos cuidados de saúde. Nesse quadro pode haver necessidade de acompanhamento ou investigação por um profissional de saúde mental:
 
  • Preocupações compulsivas - o indivíduo passa grandes períodos de tempo a pensar sobre a consulta ou como evitá-la
  • Dificuldade de concentração no consultório médico, acompanhada de sentimentos de pânico e de perda de controle.
  • Presença de outras fobias relacionadas à doenças - muitas pessoas com iatrofobia preocupam-se com a necessidade de ter de visitar o médico, mesmo que não haja nada marcado. O indivíduo pode-se tornar obcecado com pequenos problemas, com medo de que venham a requerer tratamento médico. É comum que a iatrofobia ocorra em conjunto com a hipocondria (medo irracional de ter uma doença séria) e a nosofobia (medo irracional de contrair uma doença)
  • Adiar constantemente a consulta médica
  • Pode estar associada à dentofobia (medo irracional de dentistas)
Tratamento
Devido à natureza do medo, a iatrofobia pode ser mais difícil de tratar. Muitas pessoas com iatrofobia apresentam o mesmo medo e ansiedade em relação a outros profissionais de saúde mental (psicólogos, enfermeiros, terapeutas).
Alguns serviços de saúde mental oferecem ajuda via telefone ou internet (as hotlines). Embora o contato pessoal seja sempre preferível, estes serviços podem ajudar a reduzir a ansiedade a níveis toleráveis para o contato pessoal posterior. Serviços de saúde mental disponíveis em ambientes menos característicos de saúde, como consultórios confortáveis, casas transformadas em centros de atenção à saúde e outros não causam tanta ansiedade no doente. Profissionais da área que evitam o uso de vestuário e aparato médico também são melhor indicados para estes pacientes.
Terapia cognitivo-comportamental, hipnose e terapia de grupo são as mais indicadas nestes casos.

Referências:

American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Text Revision (DSM-IV-TRTM), 4th edition. AmericanPsychiatric Association.  (2000)

Leslie A. Fiedler, Tyranny of the Normal: Essays on Bioethics, Theology & Myth, p. 114. (1996)

 Lisa Fritscher. Iatrophobia, Fear of Doctors. About.com Guide. Disponível em http://phobias.about.com/od/phobiaslist/a/iatrophobia.htm

American Psychiatric Association. "Let"s talk about Phobias." PSYCOLOGY http://www.psych.org/public_info/phobias.html (24 Oct. 2000)

Steffano Castillo Vera. Estudio de las fobias humanas y su relevancia en la sociedad actual. (29 Jan 2009). Disponível em http://www.monografias.com/trabajos66/fobias-sociedad-actual/fobias-sociedad-actual.shtml

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Mentira é sempre mentira



Recebi o texto abaixo por email e tentei buscar sua autoria no google, sem sucesso. O texto foi-me enviado por integrantes do grupo católico Crescer e no google, parece-me que foi inicialmente publicado em uma revista espírita de circulação nacional.
Como no texto que postei "Perdão Doralice" há algum tempo atrás, independentemente da origem laica ou religiosa do relato, acho que vale a pena ler e refletir.



Certa feita, uma revista de circulação nacional apresentou reportagem acerca da mentira, mostrando-a como um ingrediente fundamental do jeitinho brasileiro. Mais ou menos no mesmo período, determinado programa televisivo ofereceu a oportunidade aos telespectadores de opinarem se um personagem deveria ou não mentir para vingar um crime do passado, ainda impune. A mentira venceu por larga margem. Isso demonstra como estamos nos habituando com a mentira e a estamos utilizando, em nosso cotidiano.

Mentimos para obter algum benefício, para preservação da nossa imagem, para evitar um sentimento de vergonha, por verdadeira covardia. Assim, um amigo não diz ao outro o que realmente pensa e deseja dele. Se o amigo possui defeitos, em vez de alertá-lo a respeito, bate-lhe nas costas e com uma frase reticente, permite àquele interpretar que tudo vai muito bem. A mãe mente para o filho pequeno, afirmando que já volta, e na verdade se ausenta por longas horas. Servem-se da mentira alguns que afirmam serem técnicos em tal ou qual área, não passando, na verdade, de meros aprendizes. Utilizam a mentira aqueles que oferecem um produto como sendo de primeira linha, quando não o é. Mentem todos aqueles que fazem promessas, sabendo antecipadamente que jamais as poderão cumprir.

Natural que tal clima gere desconfiança e descrença, itens que presidem ao relacionamento atual das criaturas. Há quem acredite ser normal a criança mentir e somente ser sintoma de enfermidade no adulto. Contudo, o mentiroso é sempre alguém enfermo. E em razão mesmo de sua forma de proceder, se torna desacreditado, mesmo quando se expresse de forma correta e verdadeira. Para quem está habituado à mentira, se torna muito natural alterar o conteúdo ou a apresentação dos fatos, manipulando-os ao seu bel prazer.


As raízes da mentira se encontram no lar instável, mal formado, quando não emanam dos conflitos da personalidade, que induzem o ser à fuga da realidade e ao culto da fantasia. Faz-se imperioso que se estabeleça uma disciplina rígida na arte de falar, procurando repetir o que se ouviu exatamente como se escutou; o que se viu da forma mesma como aconteceu, evitando-se interpretar o que se pensa em torno do assunto, que nem sempre corresponde aos fatos. Esta é uma maneira de vital importância para se abandonar o vício da mentira.

Não há necessidade de mentir, e toda vez que nos servirmos da mentira, estaremos demonstrando um distúrbio de comportamento, que precisa urgentemente ser corrigido. Mentir compulsivamente é um distúrbio da imaginação chamado mitomania. A verdade deve ser sempre dita com naturalidade, sem alarde, mas na íntegra, jamais adornada de fantasias ou conclusões pessoais.

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quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Juramento à bandeira


O texto abaixo nada tem a ver com psiquiatria. Foi escrito como uma resposta à crítica de um professor da UFU à solenidade de juramento à bandeira, que chamou de retrógrada e inútil (o texto pode ser lido na íntegra aqui em post do dia 23 de outubro de 2009 e aqui no dia 26\11\2009).

Aqui vai a resposta que escrevi

Juramento vital ou juramento supérfluo?


Respeito a a opinião do Prof. Eduardo Macedo de Oliveira sobre o serviço militar obrigatório a jovens de 18 anos em nosso país, mas foi-me impossível conter-me e devo discordar de sua crítica ao juramento à bandeira, descrita no Correio de Uberlândia de 26/11/2009. O que ele chama de solenidade retrógrada e inútil é tão somente o reconhecimento do valor do símbolo máximo da nossa pátria. Falta ao prezado professor e provavelmente à grande maioria dos jovens que estiveram presentes na dita solenidade o mínimo de conhecimento da simbologia e do significado de suas ações. Infelizmente, longe vão os tempos das aulas de “Moral e Cívica” e o sentido de unidade, de nação, tem estado perdido há muito tempo.

O juramento à Bandeira serve para marcar de forma indelével o compromisso com a Pátria. Jurar à bandeira é jurar manter objetivos, estratégias e assegurar a defesa nacionais; proteger os cidadãos, com a garantia de que aqueles que não possam lutar sejam defendidos em um momento de necessidade. Quem jura à bandeira deveria entender que está a jurar garantir a soberania nacional, com a preservação da integridade territorial e dos interesses nacionais, jurando garantir a preservação da coesão e da unidade da Nação. O conhecimento do que é a bandeira e o que é o ato do juramento deveriam sim fazer com que seu filho e muitos outros rapazes tivessem mais amor e cuidado com a pátria.

O sucateamento das Forças Armadas, outro tema referido pelo prezado professor, de fato tem acontecido e é uma vergonha. Entendo que a geração que sofreu repressão a partir de 1964 sofra de calafrios ao ouvir falar de um “exército forte”. Entretanto, há ainda quem entenda a necessidade do poderio militar brasileiro e luta para ensinar, divulgar e manter o seu valor. Como ocorre após períodos de grande repressão, o pêndulo histórico da transformação levou-nos como sociedade ao extremo oposto, com o individualismo cruel e a perda do sentido de Pátria. Eventualmente o pêndulo movimenta-se novamente e resta-me esperar que seja no sentido de encontrar o equilíbrio entre um exército digno, com militares devidamente treinados e bem pagos para defender um Estado Democrático de Direito, interessado em manter o bem estar de seus cidadãos.

Dra. Vanessa Marsden
Médica psiquiatra, Mestre em Psiquiatria e Saúde Mental e Adesguiana
vanessamarsden@hotmail.co.uk
http://www.psiquiatriaetoxicodependencia.blogspot.com/

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Drunkorexia

Não faz nem 3 dias e escrevi um post sobre o que denominei gravidorexia, expressão que adaptei do inglês pregorexia. Recebi pelo twitter (onde mais?) o link para uma entrevista no Mais Você (programa matutino da televisão brasileira) sobre este novo fenômeno, também adaptado do inglês e de mesmo nome: Drunkorexia.

A entrevista completa, com vídeo, pode ser acessada aqui.
Você já ouviu falar em drunkorexia? O Mais Você conversou com uma jovem de 21 anos esclarecida, educada, que está em uma clínica de recuperação em São Paulo. Ela sempre foi uma criança gordinha e, depois que cresceu, a dificuldade para aceitar a própria aparência só aumentou. Com ela, veio a timidez para se relacionar com os meninos e o isolamento dos amigos. Até que uma descoberta pareceu ser a solução dos problemas. “Descobri que beber tirava a fome. Com 14 anos comecei a beber pra valer. Sempre que eu tinha dinheiro gastava com isso”, disse a jovem.

Mais posts sobre o assunto, com revisão da literatura, como sempre, no futuro próximo.

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Boa notícia: #preconceitonao



Deu no Blog da Saúde, que acompanho:

Uberlândia registra queda de 37,5% nos casos de HIV/AIDS


"Na próxima terça-feira, 1º de dezembro, é Dia Mundial de Luta Contra a AIDS e Uberlândia tem boas notícias, pois registrou queda de 37,5% no número de novos infectados pelo vírus HIV/AIDS de 2005 a 2009."

Uberlândia tem acompanhado a tendência dos países da Europa (com exceção de Portugal, Lituânia e Estônia), com queda no número de novos casos.
Vale lembrar que dia 1 de Dezembro é Dia Mundial da Luta contra a AIDS e provavelmente colocarei posts sobre o assunto, a interface AIDS\SIDA e saúde mental.
Enquanto isso, para os tuiteiros (expressão brasileira para quem usa o Twitter, o Ministério da Saúde está disponibilizando o laço vermelho (red ribbon) para quem apoia a campanha "Preconceito Não". O red ribbon será adicionado a fotografia do perfil:

Viver com HIV é possível. Com o preconceito não. Participe da maior mobilização contra o preconceito. #preconceitonao

UPDATE (27\11\09)
No site do Jornal Correio de Uberlândia, foi publicada hoje a notícia Casos de Aids crescem 40% em Uberlândia . Levei um susto quando li o jornal e penso que o jornalista responsável deveria ter tido mais cuidado na apresentação de seu artigo. Sim é verdade que os casos cresceram em 40% mas apenas quando se compara os números de 2008 e 2009. Quando se observa o quadro dos últimos 5 anos (disponível na reportagem) nota-se que a tendência continua em queda. Apenas dois anos de comparação é pouco em estatística para se assustar a população desta forma. Falta também informar se aqueles eram casos novos (novo contágio) ou novas inscrições de pacientes com a doença no município, já que Uberlândia é polo na região devido ao hospital universitário para tratamento de doenças mais graves.

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quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Historias de superacao - autismo

Pelo que me parece há no momento marketing sobre uma novela que esta ou estara no ar no Brasil que se chama Viver a Vida, na qual o tema é superação. Não sei nada sobre o assunto pois estou a morar fora do país desde 2005. O que sei é que tenho recebido recentemente inúmeros links com histórias de pessoas reais que têm lutado e vencido doenças e tragédias pessoais. Independentemente do porquê elas estão a circular na internet no momento, acredito que estas histórias têm seu lugar como textos de motivação e por isso resolvi lhes dar espaço neste blog. Hoje recebi estas histórias que estão em um site do portal Globo.






sex, 30/10/09por TV Globo
categoria Síndrome de Asperger
tags Cristiano dos Santos


Quando Nicolas nasceu, Cristiano logo percebeu que havia algo de diferente em seu filho. O tempo foi passando e realmente Nicolas era diferente. A criança foi apresentando dificuldades em se relacionar e aprender as coisas. A falta de diagnósticos precisos dos médicos fez com que Cristiano procurasse na internet a ajuda que necessitava. Na sua busca por informações, Cristiano conseguiu descobrir que Nicolas é portador da Síndrome de Asperger, uma espécie de autismo. Confirmado o diagnóstico, ele continuou buscando informações para melhor atender às necessidades de Nicolas. Depois de alguns anos, foi a vez de Analice chegar à família. Com ela, uma criança que respondia a todos os estímulos, Cristiano pode ver que de fato era um bom pai e aí foi a sua realização.

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terça-feira, 24 de novembro de 2009

GRAVIDOREXIA – Passando fome por dois


Gravidorexia não é uma palavra. Eu adaptei a expressão do inglês “pregorexia”, outra não palavra, criada recentemente com a única finalidade de se entender o fenômeno de algumas gravidezes e pós-partos atuais. Ela serve para descrever o distúrbio no qual mulheres da Europa, Estados Unidos e Japão se exercitam e fazem dietas extremas às custas da saúde do bebê. Infelizmente um número cada vez maior de pobres mortais tem tentado emular as esposas de jogadores de futebol ou estrelas de cinema, que se mostram determinadas a manter o corpo magérrimo em um período no qual deveriam relaxar.

A gravidorexia tem estado cada vez mais em evidência devido às mamães célebres e famosas com barriguinhas perfeitas, como Nicole Kidman em 2008 e Nicole Richie em 2007 e neste ano, que se assustam com a palavra calorias e sacrificam-se em regimes de exercícios durante toda a gravidez. Nestes casos, o objetivo não é perder o peso o mais rápido possível mas nem mesmo ganhá-lo desde o princípio.

Transtornos alimentares podem surgir a qualquer momento na vida da mulher e a gravidez, com a ansiedade e mudanças hormonais típicas do período, pode causar por si só ou agravar um quadro de anorexia ou bulimia. Estas mulheres necessitam de tratamento especializado e terapia. O que se tem observado no caso da gravidorexia, entretanto, não é exatamente um cluster de pacientes mas uma moda, como tantas outras, que pode trazer prejuízos à mulher e ao bebê.

Um bebê busca no corpo da mãe os nutrientes que necessita. Se as reservas da mãe estão baixas, pode haver problemas como anemia, depleção de cálcio (responsável pela formação dos ossos) e risco de se dar à luz a um bebê de baixo peso, que pode levar a problemas futuros para a criança como doenças cardíacas, depressão e retardo do desenvolvimento cognitivo.

A gravidorexia é um fenômeno que está a ser alimentado pela crescente indústria da “moda da maternidade”. Enquanto nossas mães desapareciam felizes e alegres sob roupas de grávidas largas e confortáveis nos anos sessenta e setenta, as grávidas de hoje vêem a sua disposição uma enorme opção de escolha desde desenhos de estilistas famosos a roupas que rapidamente os copiam nas lojas de classe média.

Além das gravidoréxicas típicas, um fenômeno similar está a acontecer após o nascimento do bebê. Mulheres desesperadas para recuperar suas figuras pedem, ou por lipoaspirações no mesmo tempo cirúrgico da cesariana, ou entram em rotinas extenuantes de exercícios e dietas no pós-parto. Nos EUA uma entrevista recente com a apresentadora de TV Liz Fraser causou polêmica: Fraser, que estava ao vivo para promover seu novo livro “Yummy Mummy”, que trata de mães que rapidamente perdem o peso após o parto para ficarem “mamães gostosas” admitiu que sofreu de um transtorno alimentar durante a gestação. Diversos telespectadores protestaram contra o que consideraram “hipocrisia” ao se tentar vender um livro que na verdade divulgava sua doença.

Independentemente do motivo por trás da divulgação da moda das “mamães gostosas”, esta é uma moda cruel na formação da nova família. O leite materno é altamente influenciado pela qualidade da alimentação da mãe. Mulheres que fazem dietas radicais e estão a amamentar consequentemente fazem com que seus bebês também sofram. Mesmo para aquelas que optaram por não amamentar seus bebês (apesar de todas as indicações médicas atuais que sublinham a amamentação como a melhor opção para mães e bebês), a rotina de exercícios físicos extenuantes aos quais as mulheres se impõem pode prevenir a criação de laços de afeto com os recém-nascidos. Ao invés da mamãe descansar e dedicar seu tempo ao bebê, ou ela está na academia com o personal trainner, ou cansada e irritada devido ao baixo aporte calórico.

A lista de celebridades a povoar as capas de revistas mostrando seu corpo enxuto até dez dias após dar a luz continua a crescer. Especialistas ainda debatem se as gravidoréxicas e “mamães gostosas” estão a aumentar devido à divulgação extensa por parte da mídia e das revistas de fofocas. Sabe-se que este fenômeno ocorre com anoréxicas e bulímicas, que usam fotos de celebridades e modelos magérrimas como gatilho e estímulo para iniciar ou manter seus comportamentos. Ainda é cedo para se afirmar o mesmo em relação às grávidas. Entretanto, há razões para suspeiras: nunca a indústria do culto à celebridade e à “fama pela fama” foi tão forte e esta tendência coincide com a atual mentalidade da dieta e boa forma a todo custo. A moda dos bebês acessórios (que preferencialmente devem estar vestidos com a última moda em Paris, e combinar com o esquema de cores da roupa da mamãe) objetifica o recém-nascido e torna mais fácil a ruptura do laço afetivo pela busca narcísica da beleza exterior o mais rápido possível. O bebê passa a ser mais uma engrenagem na maquinaria consumista atual.

Como médica, devo concluir dizendo que a questão do peso e da vaidade devem, como quase tudo na vida, estar em equilíbrio. Todos os conselhos médicos válidos até hoje sobre o assunto, sejam em grávidas, crianças ou outros proclamam a perda de peso lenta e regular associada a exercícios físicos moderados e diários como a opção mais saudável. Dietas da moda, dietas rápidas ou planos de exercícios que mais parecem uma sessão de tortura medieval não trazem prazer e podem causar consequências graves à saúde. Retornando às celebridades que mais estimulam os comportamentos descritos neste texto, Nicole Richie (filha do cantor Lionel Richie e queridinha das fashionistas e da indústria do emagrecimento) esteve na mídia neste ano não só por não adquirir peso ideal na gravidez mas por perder todo o peso extra em duas semanas após o parto (9kg em 14 dias). Há menos de dez dias Richie esteve novamente na capa dos jornais, desta vez por ter sido hospitalizada com uma grave pneumonia. A infecção (típica em adultos imunodeprimidos) pode não ter nada a ver com seu emagrecimento súbito ou seu constante estado subnutrido. Mas o princípio lógico da Navalha de Ockham, aprendido nos primeiros anos do curso de medicina, nos diz que “a explicação mais simples é sempre a mais lógica”.


Nicole Richie no pós parto (à esquerda) e grávida de seu segundo filho

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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM)


Continuando o tema do primeiro post sobre o assunto, este é destinado a explicar melhor o que é a TPM e o que é o TDPM.
A TPM é bem conhecida e pode ser entendida rapidamente com uma visita à Wikipedia:
"A tensão pré-menstrual (conhecida pela sigla TPM) é uma síndrome que atinge as mulheres e que ocorre, em maior ou menor grau, nos dias que antecedem a menstruação. Ela se caracteriza por uma irritabilidade e ansiedade mais acentuadas, bem como manifestações físicas, como por exemplo dor nas mamas, distensão abdominal e cefaléia. Decorre da retenção de sódio e água ."

O Transtorno Disfórico Pré Menstrual (TDPM) é uma forma mais grave da TPM, que afeta de 3 a 8% das mulheres. A principal característica do TDPM é a severidade dos sintomas, que podem causar disfunção física, psíquica ou emocional. Nestes casos o tratamento é recomendado pois o TDPM interfere com a habilidade da mulher de funcionar socialmente ou no trabalho. Os principais sintomas, como na TPM incluem (mas de forma mais severa):
  • sentimentos profundos de tristeza ou desepero, com possível ideação suicida
  • tensão ou ansiedade extremas
  • ataques de pânico
  • diarreia
  • alterações do humor, choro
  • irritabilidade ou raiva persistentes que criam conflitos interpessoais - tipicamente as mulheres não percebem o impacto que o transtorno tem nos familiares e amigos próximos
  • apatia ou desinteresse em atividades de vida diária
  • infecções por cândida (sapinho) - Candida albicans
  • dificuldades de concentração
  • fadiga
  • insônia ou hipersonia
  • inchaço
  • palpitações
  • dores nas mamas
  • dores de cabeça, nos músculos ou articulações
Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística da Associação Psiquiátrica Americana (1994), os critérios para o transtorno são os seguintes:


A. Os sintomas devem ocorrer durante a semana anterior à menstruação e remitirem poucos dias após o início desta. Cinco dos seguintes sintomas devem estar presentes e pelo menos um deles deve ser o de número 1, 2, 3, ou 4:

1. Humor deprimido, sentimentos de falta de esperança ou pensamentos autodepreciativos.
2. Ansiedade acentuada, tensão, sentimentos de estar com os “nervos à flor da pele”.
3. Significativa instabilidade afetiva.
4. Raiva ou irritabilidade persistente e conflitos interpessoais aumentados.
5. Interesse diminuído pelas atividades habituais.
6. Sentimento subjetivo de dificuldade em se concentrar.
7. Letargia, fadiga fácil ou acentuada falta de energia.
8. Alteração acentuada do apetite, excessos alimentares ou avidez por determinados alimentos.
9. Hipersonia ou insônia.
10. Sentimentos subjetivos de descontrole emocional.
11. Outros sintomas físicos, como sensibilidade ou inchaço das mamas, dor de cabeça, dor articular ou muscular, sensação de inchaço geral “e ganho de peso”.

B. Os sintomas devem interferir ou trazer prejuízo no trabalho, na escola, nas atividades cotidianas ou nos relacionamentos.

C. Os sintomas não devem ser apenas exacerbação de outras doenças.

D. Os critérios A, B, e C devem ser confirmados por anotações prospectivas em diário durante pelo menos dois ciclos consecutivos.


Tratamento

Em geral mudanças no estilo de vida como dieta e exercícios podem melhorar alguns sintomas. Alguns antidepressivos inibidores da recaptação de serotonina (ISRS) parecem melhorar o quadro: fluoxetina, sertralina, paroxetina e escitalopram. Para muitas mulheres, o uso de métodos hormonais que suprimem os períodos menstruais, seja o Dispositivo Intra Uterino (DIU) hormonal, os implantes hormonais ou pílulas contraceptivas que devem ser tomadas por tempo indeterminado produzem alívio ao impedir as oscilações hormonais.

Para ler mais: celebridades brasileiras que sofriam com a TPM e usam hormônios contraceptivos de longo prazo. Reportagem da revista Veja de agosto de 2000.
Escolha polêmica. Suspender a menstruação tem sido uma alternativa para tratar doenças e evitar a TPM - Reportagem do Estado de São Paulo de 15 de Abril de 2006.


Referências:

ResearchBlogging.org

American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorder. Washington DC: American PSYCHIATRIC ASSOCIATION PRESS, 2004.

HALBREICH, U. (2003). The prevalence, impairment, impact, and burden of premenstrual dysphoric disorder (PMS/PMDD) Psychoneuroendocrinology, 28, 1-23 DOI: 10.1016/S0306-4530(03)00098-2 

Rapkin & Winer. Premenstrual Syndrome and Premenstrual Dysphoric Disorder: Quality of Life: Etiology of PMS/PMDD and Comorbidity With Psychiatric and Medical Disorders. Medscape Today.
 
Valadares et al. Transtorno disfórico pré-menstrual revisão – conceito, história, epidemiologia e etiologia. Revista de Psiquiatria Clínica 2006, vol.33, n.3, pp. 117-123.
Jornal Brasileiro de Psiquiatria
 
Vieira & Gaion. Impacto da síndrome pré-menstrual no estado de humor de atletas. J. bras. psiquiatr. vol.58 no.2 Rio de Janeiro 2009.

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Meus períodos menstruais quase acabaram com meu casamento: uma mulher revela como a TPM a deixou tão irritável que seu casamento ficou em frangalhos

My periods nearly killed my marriage: A woman reveals how PMS made her so volatile it put a strain on her relationship



By Keris Stainton
Publicado no jornal Daily Mail e traduzido por mim. 

Last updated at 7:50 AM on 23rd November 2009

Esparramada no chão da sala de visitas, exausta e com olhos vermelhos após discutir por horas com meu marido David, tanto ele quanto eu tivemos o suficiente. Era o mesmo cansativo argumento, o que vínhamos tendo diversas vezes por anos, mas desta vez algo havia mudado.

Desta vez David mencionou divórcio. A briga começou inocentemente - como sempre começava - quando notei que ele havia gasto mais de £150 no supermercado, em ítens que mal poderíamos pagar. Eu gritei, acusando-o de ser irresponsável e incapaz - ou somente indesejoso - de se comunicar comigo. Ele rebateu dizendo que eu estava "histérica" e exagerando como sempre. Nossas brigas sempre começavam com algo pequeno - mais comumente problemas financeiros - mas algumas vezes eram porque eu sentia que David não fazia qualquer esforço com minha família ou havia sido rude com um dos meus amigos. Tudo isso continuaria em crescendo em uma série de queixas que, se tomadas individualmente, não eram nada em especial, mas coletivamente sugeriam que eu tinha cometido um terrível engano e nunca deveria ter-me casado com ele.

As brigas tornaram-se mais frequente após o nascimento de nosso primeiro bebê. Quando Harry estava com dois anos, David e eu nos preocupamos o suficiente para marcar uma consulta com Relate.

Parecía-nos um passo na direção certa e uma última tentativa, mas achamos a sessão humilhante. Eu falei sobre minha vontade de que David crescesse e assumisse maior responsabilidade por suas ações e problemas familiares, como pagar as contas e a manutenção da casa. Eu me contorci enquanto ele dizia que ele frequentemente agia "de forma passiva agressiva ou coisa do gênero" e que tentaria mudar. Foi como se ele estivesse apenas a listar frequentes acusações que joguei a ele sem realmente as entender.

Quando David entendeu que não era eu mas a TPM que me deixava daquele jeito, ele passou a tomar meus ataques de forma menos pessoal. Ele pareceu confuso sobre porque nós estavamos em terapia. Eu me sentia entre frustrada porque ele não conseguia ver que tínhamos um problema e culpada porque talvez ele verdadeiramente não visse. E mesmo assim as brigas continuavam, seguindo o mesmo repetitivo enredo. Ou pelo menos elas continuaram até aquela noite quando, em lágrimas no chão, David sugeriu que talvez era melhor que nos separássemos. Eu me surpreendi ao ver-me tão devastada com a ideia do fim do casamento. Não era aquilo que eu queria? Não tinha eu pensado que o divórcio era inevitável?


Não, apesar do fato de que era eu que sempre iniciava as brigas, descobri que mal conseguia tolerar pensar em separação. Na maior parte do tempo nós estavamos OK, eu dizia a mim mesma - eu teria apenas que aprender a não deixar pequenas coisas nos incomodar tanto. Não ser tão controladora.


Dias depois, ao contar a uma amiga quão ruim as coisas entre nós estavam, eu fiz uma referência ao David e ao meu período menstrual quando uma luz se acendeu. Quando olhei para nosso relacionamento, notei que as brigas aconteciam praticamente todos os meses. No mesmo período. E foi então que finalmente entendi que o problema não era resultado de um acúmulo de pequenas irritações que finalmente se tornavam grandes demais para segurar, mas que era todo hormonal. Nossas brigas sempre - sim, sempre - aconteciam na semana anterior á minha menstruação.Fique maravilhada quando fiz a conexão mas, ao pensar sobre o assunto, nós dois deveríamos ter visto já que só brigávamos - não discussões, mas brigas mesmo - uma vez por mês.


Eu havia notado um padrão similar no relacionamento com nosso filho: uma ou duas vezes notei que estava com pouca paciência para com ele, a pensar que não conseguiria tolerar tudo - isso aconteceu uma vez por mês também. De repente eu havia somado dois e dois. Minha amiga Laura concordou, dizendo que ela e seu marido discutiam frequente e ferozmente por mais ou menos seis meses antes de notarem que aquilo acontecia a cada quatro semanas, regular como um relógio.
"Na manhã depois da briga, surpresa!, lá estava minha menstruação", ela disse.


Há muito tempo que sei da Síndrome da Tensão Pré-Menstrual ou TPM - a ideia de uma mulher brava com seu marido, desejando chocolate e comprando incontrolavelmente uma vez por mês se tornou piada fácil há tempos - mas o que eu não sabia era que todas as mulheres experimentam a síndrome de alguma forma nas duas semanas antes da menstruação.


Para uma em 20 mulheres a TPM é severa o suficiente para causar disfunção das suas atividades normais e da qualidade de vida, frequentemente causando tensão com seus familiares e amigos. Para os que estão de fora, como maridos ou parceiros, a TPM pode ser difícil de distinguir de ansiedade e depressão, enquanto a mulher se sente abandonada.

Mais de 150 sintomas foram atribuídos à TPM, desde alterações do humor, perda da confiança, sensação de estar emocional, irritável, agressiva ou com raiva - não é surpresa que relacionamentos fiquem desgastados. O que torna tudo mais difícil é que, para a maioria das mulheres, a TPM é um segredo que vivemos, mas nunca conversamos sobre ela.


As mudanças físicas - que incluem dores de cabeça e enxaqueca, inchaço abdominal, seios doloridos e até mesmo asma - são mais fáceis de se identificar pois podem ser debilitantes. Surpreendentemente, apesar de mais de 80 por cento das mulheres em idade fértil sofrerem de algum dos sintomas da TPM, pouco é conhecido sobre sua causa ou o tratamento mais eficaz.

A maioria sofre em silêncio todos os meses e muitas - como eu mesma - podem nunca ter notado que têm a síndrome. Não entender o que está acontecendo pode levar a aumentados níveis de ansiedade e deixar familiares confusos e irritados pelo comportamento incaracterístico da parceira.

Incrivelmente, suprimir a condição ainda é o único meio de lidar com a TPM. Prevenção e eliminação são praticamente impossíveis. "As causas exatas da TPM são desconhecidas" diz Michael Dooley, ginecologista da The Poundbury Clinic, em Londres. "Mas parece ser uma relação anormal entre os hormônios do ciclo menstrual e o corpo". Nove em dez mulheres apresentam sintomas de TPM e 5 a 10 por cento são seriamente afetadas, de acordo como o National Association for Pre-Menstrual Syndrome. "A TPM pode ocorrer em diferentes estágios da vida da mulher, é extremamente disfuncional e geralmente não é diagnosticada".

Eu nunca tinha notado os sintomas antes de ter tido meu filho e assumi que havia começado após o nascimento, mas Dr. Dooley acredita não ser este o caso. "Sim, a sensibilidade aos hormônios pode mudar, mas certamente não é a norma" ele afirma. "É muito mais provável que a mulher tenha estado em uso da pílula anticoncepcional, que mascara os sintomas e então elas apenas passam a ficar cientes desses quando param de tomar o contraceptivo na esperança de engravidar".

"Geralmente as mulheres podem passar muito tempo sem notar os efeitos hormonais. O primeiro passo é reconhecer que os hormônios são a causa e se notar que os sintomas não são possíveis de manejo, deve procurar ajuda". Isso inclui certas drogas como antidepressivos ou a pílula - que impede a ovulação, que se acredita ser o gatilho da TPM a cada mês. Reduzir cafeína, comer de forma saudável e aumentar a atividade física também parecer fazer a diferença. Estudos mostram que medicamentos naturais como a Erva de São João (Hipéricum), comumente utilizada para tratar a depressão, Trifoleum pratense, óleo de Oenothera e mesmo exposição à luz intensa podem ter resultados positivos no tratamento de disfunções hormonais.

De início, saber que a TPM estava por trás da raiva e da desesperança que sentia todo mês não impediu as brigas. Eu ainda ficava chateada com David pelo que parecia no momento um argumento por razões perfeitamente legítimas. Eu nunca estava ciente de que na causa da briga estava a TPM. Apenas depois da briga lembrava que não era o comportamento dele, mas minha reação a este a causa. Quando contei a David minhas suspeitas, ele foi capaz de reduzir seus ataques pessoais a mim, já que ele sabia que não era eu verdadeiramente (embora ele tenha sido sensível o suficiente para nunca dizer isso em voz alta). E finalmente, a uns meses atrás, logo após ele pagar o imposto sobre veículos sem notar antes se tínhamos dinheiro suficiente para isso, eu senti a fúria usual vir sobre mim, mas ele estava no trabalho. Então meu sentei no computador e escrevi um email. Escrevi tudo o que sempre submergia em nossas brigas, chorando enquanto digitava e sentindo, como sempre, que as coisas não poderiam continuar como estavam. O mais engraçado foi que, quando terminei de escrever o email, eu me senti bem. Não estava com raiva, não queria o divórcio e realmente não queria enviar a mensagem, salvando-a no lugar de enviá-la. Eu a li algumas vezes desde então e fico admirada de ver quão dramática e extremista ela parece, mas sei que, enquanto estive sentada a escrevê-la furiosa e chorando, que acreditei em cada palavra.

O mais estranho disso tudo é que não estava a imaginar ou criar problemas apenas para provocar uma briga com o David. Os problemas são reais, mas por três quartos do mês eles não me incomodam. Não, o David realmente não assume qualquer responsabilidade pelas contas da casa e nunca se lembra de ver quanto dinheiro temos no banco antes de gastar. Mas ele cozinha e faz a maior parte do serviço de casa, o que devo admitir, parece-me um trato justo.

O principal é que nos amamos e temos dois lindos filhos, que nos trazem imensas alegrias. Acho difícil imaginar que David e eu tenhamos considerado o divórcio, mas, ao mesmo tempo, não parece muito complicado entender porque sei quão desesperançada me sinto. Estou feliz de que os problemas tenham se resolvido antes que fosse tarde.


Para ler o artigo em inglês: http://www.dailymail.co.uk/femail/article-1230096/My-periods-nearly-killed-marriage-A-woman-reveals-PMS-volatile-strain-relationship.html#ixzz0XgAiLOPi

Para entender melhor o que é o Transtorno Disfórico Pré-Menstrual, clique aqui

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Notícias em psiquiatria: homem que estrangulou a mulher enquanto dormia é libertado na Inglaterra

Brian Thomas e Cristine, sua mulher

Brian Thomas, 59 anos, que estrangulou sua esposa enquanto dormia e sonhava que estava a lutar com um ladrão foi libertado na Inglaterra após o juíz deliberar que ele é um "homem decente".
Em um caso inusitado, mesmo os promotores aceitaram que Thomas sofre de um distúrbio do sono crônico conhecido como automatismo e apelaram para que o veredito de "inocente por incapacidade" fosse proferido.

Brian Thomas esteve preso por 10 meses, após matar sua esposa no trailer que usavam para acampar à beira mar no País de Gales. No início da noite o casal havia sido interrompido por um grupo de jovens arruaceiros que estavam a passar pelo local em que acampavam. Thomas pensou, enquanto dormia, que um destes jovens havia invadido o trailer e reclinado sobre ele, na cama. Segundo dados do processo clínico revelados no julgamento, Thomas apresentou diversos episódios de sonambulismo e outros distúrbios do sono pela maior parte dos últimos 50 anos. Thomas deveria usar medicamentos para sua condição, mas tinha-os parado recentemente.

O que e automatismo?

Automatismo é uma forma de defesa nos tribunais muito rara: menos de 70 casos ao redor do mundo. A atividade biológica enquanto dormimos pode ser medida utilizando-se uma técnica denominada polissonografia, que mede ondas cerebrais, tônus muscular, padrões respiratórios e outros. Nos casos legais nos quais o automatismo foi devidamente comprovado, especialistas testemunharam a favor do acusado, reconhecendo que ele\ela sofria de um distúrbio do sono que poderia levá-los a matar alguém sem se estar alerta para o fato.

Além do mais, o termo sonambulismo inclui um grande número de comportamentos que vão desde andar enquanto se dorme ao distúrbio do comportamento relacionado ao sono REM, mais comum em homens que pode causar atividade física na forma de automatismos.
Regularmente, quando entramos em fase de sono REM, há uma hipotonia generalizada da musculatura, o que "impede" movimentos (paralisia). Em pessoas com o distúrbio do sono REM, a paralisia não ocorre e eles podem por em prática o que sonham, podendo tornar-se violentos.

Quando estes casos chegam aos tribunais de justiça, promotores têm a tarefa de demonstrar, não apenas de que o ato foi cometido pelo acusado, mas que houve dolo (ou intenção). Este último fato foi central no julgamento de Brian Thomas.
 
Para ler mais:
Rapid eye movement behavior disorder (Wikipedia) - em inglês

Referências:

ResearchBlogging.org

Billiard, M. (2009). REM Sleep Behavior Disorder and Narcolepsy CNS & Neurological Disorders - Drug Targets (Formerly Current Drug Targets - CNS & Neurological Disorders), 8 (4), 264-270 DOI: 10.2174/187152709788921690

Cramer Bornemann, M. (2006). Parasomnias: Clinical Features and Forensic Implications Chest, 130 (2), 605-610 DOI: 10.1378/chest.130.2.605

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domingo, 22 de novembro de 2009

Historias de superacao - anorexia

Pelo que me parece há no momento marketing sobre uma novela que esta ou estara no ar no Brasil que se chama Viver a Vida, na qual o tema é superação. Não sei nada sobre o assunto pois estou a morar fora do país desde 2005. O que sei é que tenho recebido recentemente inúmeros links com histórias de pessoas reais que têm lutado e vencido doenças e tragédias pessoais. Independentemente do porquê elas estão a circular na internet no momento, acredito que estas histórias têm seu lugar como textos de motivação e por isso resolvi lhes dar espaço neste blog. Hoje recebi estas histórias que estão em um site do portal Globo.






ter, 03/11/09por TV Globo
categoria Anorexia
tags Andrea Lopes


Com apenas 17 anos Andrea se tornou a primeira surfista profissional a viver do esporte no Brasil. Depois, já com 25 anos, foi a primeira brasileira a vencer o campeonato mundial, o WCT e a única a ser tetracampeã brasileira. No começo dos anos 90, começou a apresentar um quadro de anorexia. Quando viajou para África do Sul para disputar um campeonato, começou a rejeitar toda comida que lhe era oferecida. Era obsessiva com o surf e com o corpo. Chegava a surfar seis horas ininterruptas tendo comido apenas uma fruta o dia inteiro.


A comida tornou-se uma ameaça na cabeça de Andrea. 1994 e 1995 foram os anos mais críticos, parou de menstruar e chegou a pesar 38 quilos. Certa vez, quando viajava para uma competição na Austrália, teve uma forte crise estomacal que fez com que ela fosse internada às pressas. Ainda tentou continuar na competição, mas não teve forças.


De volta ao Brasil, um dia, sua mãe entrou no banheiro e começou a chorar olhando a magreza excessiva da filha. Andrea resolveu se tratar. Parou com sua vida profissional, seguiu os tratamentos e com ajuda da família e de terapia, conseguiu sair sem sequelas da doença. Hoje, está curada e se diz uma pessoa melhor e mais feliz. Está a caminho da conquista do pentacampeonato brasileiro.

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Noticias em psiquiatria



Fases da lua estao mesmo associadas a epilepsia, afinal de contas (Moon's phases ARE linked with epilepsy after all, say scientistsBy Mail On Sunday Reporter) - Daily Mail


Supersticoes sobre a influencia da Lua sobre o cerebro e em particular sobre epilepsia e crises convulsivas existem ha seculos mas de acordo com uma nova pesquisa, parece haver ligacao entre elas.

Pesquisadores descobriram que o numero de crises epilepticas - que sao relacionadas a atividade eletrica no cerebro - diminuem quando a lua esta cheia. Eles examinaram dados de crises convulsivas em uma unidade dedicada ao estudo da epilepsia, na qual cada crise era cada periodo de 24 horas era gravada para todos os pacientes. Os pesquisadores entao compararam a data de cada crise com a fase da lua. Os resultados mostram que durante fases mais cheias do ciclo lunar haviam menos crises no periodo de 24 horas. Os investigadores desconfiam que ha relacao entre o hormonio melatonina, as fases da lua e a frequencia de crises convulsivas.

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Historias de superacao - depressão

Recebi o texto abaixo como um link pelo twitter. Este link levou `a revista Cláudia, da Editora Abril, que publicou a história. Vasculhei o site da revista na tentativa de encontrar o número, volume e data de quando foi publicado, mas foi em vão. De qualquer forma, o texto é muito bom, sobre a possibilidade de superação das drogas.


Histórias de superação

Três mulheres contam como tiveram garra para vencer grandes dificuldades: drogas, prisão e depressão

Laís Mota e Heloisa Aline Oliveira

O longo caminho de volta da depressão


Quem vê a mineira Yonara Del’Amore, 35 anos, uma bela loira de olhos verdes, formada em psicologia e filosofia, não imagina que ela luta há 10 anos contra uma depressão crônica. Yonara conseguiu sair do isolamento hoje trabalha quatro horas por dia na loja Giro, da ONG Atas Cidadania*, cujo objetivo é a inclusão de portadores de transtorno mental pelo trabalho.

“A primeira crise que tive foi em 1999 e ela veio do nada, sem explicação nenhuma. Foi uma sensação de morte terrível, algo paralisante que me dominou completamente. Fui internada no hospital Felício Rocho em Belo Horizonte, para fazer exames: tomografia, eletroencefalograma ...fiz tudo, mas o neurologista não descobriu nenhuma doença e me indicou um psiquiatra, que diagnosticou uma depressão crônica. Nunca pensei que pudesse acontecer isto comigo porque sou graduada em psicologia e filosofia...na verdade, a crise ocorreu na época dos trabalhos finais da minha segunda faculdade.

No último ano da psicologia, resolvi fazer filosofia e fui levando os dois cursos e trabalhando – fazia estágio na área de RH em uma grande empresa. Para me formar em filosofia, em 1998, tive que me esforçar muito para as teses finais. Foi aí que tive esse stress terrível e acabei no hospital.

Aquilo que tinha estudado na teoria, passei a vivenciar na prática: só queria ficar dormindo, comecei a engordar muito, perdi totalmente a vaidade, minha única vontade era ficar sozinha no meu quarto. Passei dois anos terríveis, queria me isolar do mundo: tomava remédio, mudava de remédio e não adiantava nada.

Sempre tive apoio da família e quando engordei 20 quilos e cheguei a 85 quilos minha mãe me levou a um endocrinologista, que me receitou um regime, mas eu não fazia nada direito. Ela não desistiu e procurou um curso de ioga e matriculou-se junto comigo.Era um jeito de me tirar um pouco de casa. Adorei a ioga, mas continuava sofrendo com os meus pensamentos -- me sentia fracassada na profissão e na vida, não tinha conseguido trabalhar nem constituir a minha família, mas estava tentando vencer o isolamento. Além de ioga, comecei a fazer caminhadas e emagreci até demais.

A recaída



Em 2004, meu pai foi hospitalizado, ficou no CTI e tive que ajudar minha mãe a cuidar dele. E para piorar, meu cunhado, de quem gostava muito, e ia visitar sempre meu pai no hospital, teve uma aneurisma e morreu 1mês antes do meu pai. Foram perdas muito dolorosas e tive uma recaída da depressão. Não engordei de novo, mas fiquei com medo de tudo: de morrer, de viver, de sair de casa. Eu só queria dormir.Perdi de vez a esperança na vida, achava que todos os meus sonhos tinham ido por água abaixo, que não ia conquistar mais nada.

Antes da doença, meu projeto era trabalhar como psicóloga em Recursos Humanos, fazer mestrado em filosofia, namorar, casar e ter filhos.

Depois, eu não acreditava em mais nada, nem em mim nem em Deus. E olha que sempre fui muito católica. Mas me achava feia, inadequada, frustrada. Quando você está assim, não tem consciência de que está perdendo a vida, a angústia impede de reagir. Eu não queria fazer nada, até que minha mãe quebrou a bacia, em 2005, e tive que cuidar dela. Assim que ela melhorou, foi atrás de outro psiquiatra para mim. Foi assim que, em 2006, conheci a Dra. Carolina Verçosa, na Central Psíquica (clínica psiquiátrica). Ela acertou a medicação e alertou que só isso não bastava – me encaminhou para um tratamento psicológico, com um terapeuta ocupacional.

Minha mãe é pensionista de meu pai, que era contador, não temos muito dinheiro, mas conseguimos um terapeuta que nos fez um bom preço e me colocou em contato com a ONG Atas Cidadania.
 
Trabalho terapêutico



Foi aí que minha vida mudou completamente, virei uma outra pessoa. Primeiro, porque eles me trataram muito bem, respeitaram meus limites, meu tempo, nunca me impuseram nada, tiveram muita paciência comigo. Como a Atas tinha uma loja no shopping Diamond Mall, eu ia lá com o meu terapeuta, fui aos poucos me entrosando e comecei a trabalhar lá. Para mim, cada venda realizada era uma vitória: produzindo, eu me senti viva. A auto-estima foi melhorando, comecei a arrumar o cabelo, a querer comprar um vestido, a fazer minha unha. Meus sonhos voltaram, mas sei que para realizá-los, o tratamento tem que seguir: minha psiquiatra disse que tenho que continuar a terapia e com os remédios. Eu sempre tive muito preconceito com antidepressivos, resistia a tomá-los. Mas a médica me disse que sou como uma pessoa que tem diabetes: tenho que tomar remédios todos os dias. A luta tem que ser constante.

Tem dias que não quero ir ao psicólogo. Ligo para desmarcar, mas ele me remarca o horário e diz: “Vem para você não desanimar, não perder o que você já conquistou”. Então ele me leva para passear, tomar um lanche, bater perna. Aí melhoro.

Às vezes, também não tenho vontade de ir trabalhar, mas insisto. Nunca faltei. Basta eu ir para a loja e conversar com as outras vendedoras que eu melhoro. Durante alguns meses, fiquei parada -- a loja do shopping fechou porque ia reabrir em outro lugar, no bairro de Lourdes. Esse período foi péssimo, voltei de novo a querer só dormir, mas quando a loja ficou pronta e eles me chamaram de volta, foi uma alegria muito grande. Sei que todos me vêem com outros olhos porque estou lutando, trabalhando, ganhando meu dinheiro. Antes, tinha medo de tudo, agora já pego o ônibus, vou ao trabalho e ao médico sozinha, em sinto segura.

Agora minhas perspectivas são as melhores, tenho 35 anos, quero trabalhar, me relacionar com as pessoas, namorar, estou mais aberta. Me sinto mais forte e mais bonita. Sei que não posso correr, tenho que ir devagar. Mas eu já dei o primeiro passo.

Sei que hoje existem muitas pessoas que sofrem de depressão e gostaria de dizer a elas que existe saída. Mas que é fundamental procurar ajuda. Sozinho, ninguém consegue. Mesmo as pessoas que não têm condição financeira, podem procurar um posto de saúde, serviços credenciados pela prefeitura, sei que existem psicólogos trabalhando até em igrejas, como voluntários. O importante é se informar onde buscar apoio e tratamento.


Eu adoro música e tem uma do J. Quest que diz: “Ei medo, eu não te escuto mais, ei dor, eu não te escuto mais, você não me leva a nada. Se você quiser saber para onde eu vou, eu vou para onde houver sol, é para lá que eu vou”

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sábado, 21 de novembro de 2009

Avaliação psiquiátrica dentro da cultura individual

Dimensões em análise na entrevista











Comunicação


Idioma corrente
Outros idiomas
Proficiência linguística
Pronúncia
Gestão do silêncio
Linguagem não verbal
Facilidade ou dificuldade em falar sobre si
Registro da informação







Espaço



Grau de conforto observado
Gestão do espaço interpessoal
Percepção do espaço
Movimentos corporais














Orientação social


Situação profissional e sócio-econômica
Relação com a família
Responsabilidade na família
Ocupação dos tempos livres e lazer
Pessoas significativas
















Espiritualidade


Religião
Sentimento de pertença
Relação com organizações religiosas ou dimensões espirituais relevantes
Influência da espiritualidade nas atividades de vida diária
Expectativas












Tempo


Percepção do tempo
Representação
Gestão do tempo
Orientação temporal (passado, presente, futuro)
Idade e estatuto social
Rituais de passagem















Saúde e meio ambiente


Valores e práticas culturais e saúde (permissões, proibições, prescrições)
Concepção da saúde e doença
Sistemas de assistência (formal e informal)
Acesso aos cuidados
Coping – estratégias










Variações biológicas


Raça
Estrutura corporal
Cor da pele e cabelo
Outras características físicas
Preferências nutricionais e influêncais no estado de saúde
Genética e hereditariedade
Morte: tempos biológico e social














Pertenças culturais


Cultura de referência
Grupo de pertença
Identidade cultural
Estratégias identitárias – identificação, identização
Auto-estima
Mediações culturais








Estratégias de abordagem:


  • como designa o problema
  • o que pensa estar na origem do problema
  • o que aconteceu na altura em que surge o problema
  • que alterações provou o problema
  • qual o grau de severidade
  • durante quanto tempo pode persistir
  • até que ponto manifesta receio
  • que consequências teve o problema
  • há alguém conhecido com um problema idêntico
  • se já teve o problema antes, como reagiu:
  • que expectativas possui da abordagem terapêutica
  • há alguém que considere ter soluções para o problema


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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

História de superação das drogas

Recebi o texto abaixo como um link pelo twitter. Este link levou `a revista Cláudia, da Editora Abril, que publicou a história. Vasculhei o site da revista na tentativa de encontrar o número, volume e data de quando foi publicado, mas foi em vão. De qualquer forma, o texto é muito bom, sobre a possibilidade de superação das drogas.

Histórias de superação



Três mulheres contam como tiveram garra para vencer grandes dificuldades: drogas, prisão e depressão


Laís Mota e Heloisa Aline Oliveira


‘Correndo atrás dos sonhos Sempre gostei dos meus pés. Se eles já soubessem que caminho seguir, teriam me levado para longe quando minha mãe me abandonou, recém-nascida, na porta de uma instituição ligada à antiga Febem, em São Paulo. Era 1962. Fui deixada dentro de uma caixa de sapatos. Cresci com muitas crianças, mas sem nenhum amor. Na escola, só aprendi a alimentar o medo. Tenho medo de tudo: de carro, de gente, do escuro. Aos 10 anos, ainda estava na 1ª série. Sentia fome, não tinha vontade de estudar. Aos 18, fui encaminhada para meu primeiro emprego. Trabalhei cinco meses como empregada doméstica, mas a patroa não me pagava. Um dia em que ela não estava em casa, enchi várias malas com objetos de valor e fugi para o centro de São Paulo. Distribuí o que roubei para o povo que vivia na praça da República. “Comprei”, assim, lugar para morar.

Nas ruas, ninguém respeita as mulheres. Mendigos tentaram me estuprar, me bater. Para me proteger, simplesmente raspei os cabelos e me vesti de homem. Em pouco tempo virei líder de um bando de trombadinhas. Eles me chamavam de Tia Punk. Depois de um mês vagando pela cidade, descobri as drogas. No começo, sentia tanta fome e tanto frio que usava o que aparecesse: cola de sapateiro, benzina, gasolina... Com o tempo, essas drogas não me satisfaziam mais. Para mergulhar na cocaína, caí no crime.

Sustentar o vício era uma maratona: roubava comida, roupas, bolsas, ia até a boca, o ponto-de-venda, e trocava tudo por cocaína. Fui presa várias vezes, apanhei para entregar os traficantes, mas nunca falei nada. Eu só não conheço todas as delegacias de São Paulo porque minha especialidade era correr da polícia. Certo dia, em uma dessas “provas de longa distância”, parei em frente a uma loja de eletrodomésticos cheia de televisões na vitrine: em todas passava o filme CARRUAGENS DE FOGO, a história de dois corredores. Falei para os meninos do bando: vou correr assim. Um dos trombadinhas disse que, como eu era viciada em drogas, não conseguiria treinar. Respondi: “Se corro da polícia, também posso correr na rua”.

Com essa idéia na cabeça, “encomendei” equipamento para os amigos do bando, que assaltaram vários atletas. Aos 34 anos, com tênis, bermuda e camiseta roubados, comecei a treinar sozinha e fui parar na maratona de São Paulo. No final dos 42 quilômetros da prova, eu finalmente me encontrei. Era aquilo que eu queria. Mas, para correr, não podia me drogar: passei dias rolando na calçada, amargando a abstinência e as contusões.


Em 1998, eu morava sob as marquises próximas do Parque do Ibirapuera e passei a correr lá. Achava que era invisível para as pessoas da sociedade, mas alguém me enxergou. Era o dr. Fausto Cunha (na época, secretário de Esportes da Prefeitura). Ele percebeu que a corrida podia me recuperar. Me levou para um alojamento de atletas, me ofereceu abrigo, tratamento para conseguir deixar o vício, comida. Adoro ele e sua esposa, visito a casa deles, até Natal eu passo lá.

No início, o técnico Wanderley Oliveira não acreditou em mim. Disse que só ia me treinar se eu largasse todas as drogas, me cuidasse e me dedicasse muito. Sempre cumpri tudo o que prometi. O mais difícil era vencer o meu medo. Nunca aprendi a receber carinho, era arisca como um bicho. Por causa disso, ganhei da turma da corrida o apelido de Animal. E eu treinei como um animal. Corri contra tudo: contra o preconceito, a tristeza, o vício. Sofri demais com o rigor exigido pelo esporte, mas valeu a pena. Cada gota de suor na pista era a minha glória na linha de chegada.

Aos 40 anos, bati dois recordes brasileiros, nos 800 e 1,5 mil metros. Em 2006, venci a meia maratona de Santiago, no Chile; na Argentina, fui a terceira colocada na meia maratona de Buenos Aires. Percorri o Brasil inteiro graças a alguns patrocínios, à ajuda de tantos amigos e, principalmente, aos meus pés.

Sobrevivo por causa deles e das premiações. E ainda me perguntam se venci na vida! Comecei a vencer quando ninguém mais acreditava em mim e agora, aos 46 anos, não penso em parar. Tenho sonhos e pressa de seguir em frente. Ainda moro no abrigo da Prefeitura. Quero uma casinha para mim, mesmo que seja de um cômodo só, sem banheiro. Basta um canto para acomodar todas as minhas centenas de medalhas.

A primeira que ganhei pendurei no pescoço daquele amigo das ruas que dizia que eu não era capaz de correr sem ter uma arma apontada para mim. Provei a ele que eu posso. Para mim, não preciso provar mais nada.




ANA LUIZA DOS ANJOS GARCÊZ, 45 ANOS, ATLETA

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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Em busca da remissão na Depressão major

Principais pontos apresentados na Conferência Toward Depression Remission: Balancing Efficacy and Tolerability proferida por Angel L. Montejo, Universidade Hospital de Salamanca, Espanha, no 21o Congresso do Colégio Europeu de Neuropsicofarmacologia (European College of Neuropsychopharmacology (ECNP))

Circuitos não serotoninérgicos envolvidos na depressão

A manipulação serotoninérgica tem sido o foco do arsenal antidepressivo por muitos anos e a disfunção serotoninérgica foi ligada a sintomas como tristeza, fadiga, pensamentos suicidas e ansiedade. Entretanto outros neurotransmissores como a noradrenalina (NA ou norepinefrina), dopamina (DA), ácido gama aminobutírico (GABA) e glutamato (GLU) também podem causar alterações do humor.
Os diferentes sintomas da depressão podem ser atribuídos a alterações de diferentes neurotransmissores em várias áreas cerebrais. Por exemplo, alterações de NA, DA, GLU e GABA nas regiões corticais podem levar a humor deprimindo, disfunção cognitiva, anedonia e apatia. A disfunção na transmissão de DA e NA no córtex préfrontal pode prejudicar a concentração e a tomada de decisão. Ansiedade, sentimentos de culpa e sentimentos negativos são influenciados por atividade serotoninérgica no sistema límbico, assim como aumento do fluxo sanguíneo e metabolismo da glicose, aumento da liberação de NA, diminuídas densidade glial e recaptação do GLU no metabolismo da amígdala.

Tratamento de sintomas específicos da depressão major (DM)

Enquanto que dezenas de agentes farmacológicos foram desenvolvidos para tratar a DM, eles apresentam limitações em eficácia, tolerabilidade e segurança. Sintomas residuais são comuns nos pacientes que respondem ao tratamento e existe um cluster de pacientes irresponsivos. A presença de sintomas residuais está associada a aumento no risco de recaídas ou recorrências, episódios depressivos mais crônicos, menor tempo entre os episódios, continuado prejuízo social e ocupacional, aumento do risco de suicídio e aumento do risco para morbidade e mortalidade (incluind diversas doenças orgânicas como diabetes e infarto do miocárdio).
Duas estratégias sugeridas na palestra:

A primeira estratégia seria uma tentativa de efeito alargado para uma resolução completa de vários sintomas. Uma arma terapêutica seria o inibidor seletivo da recuperação da serotonina (ISRS) escitalopram.

A segunda estratégia, seria mais focalizada em tratar sintomas alvos e seria beneficial para pacientes com DM com predominância de letargia e fatiga, por exemplo. Uma arma terapêutica poderia ser o inibidor seletivo da recaptação de dopamina e noradrenalina bupropiona, que apresenta melhor eficácia em reduzir sintomas residuais de sonolência e fatiga. Outro exemplo, específico para pacientes com DM e insônia seria o uso de melatonina associada à fluoxetina.

Após o tratamento de primeira linha (antidepressivos), outros medicamentos podem ser necessários no tratamento da depressão resistente, como associação de antidepressivos e antipsicóticos atípicos. Alternativamente, tratamento focalizado em um sintoma específico pode ser necessário no caso de sintomas residuais, como a associação com metilfenidato para melhora da apatia e da fatiga.

A disfunção sexual de causa serotoninérgica e outros problemas de tolerabilidade em depressão

Efeitos colaterais no tratamento da depressão são comuns e podem levar à não adesão ou ao abandono do tratamento. Olfson et al observaram que mais de 70% dos pacientes descontinuam o tratamento com antidepressivos após 3 meses (Am J Psychiatry. 2006;163(1):101–108). Sonolência, ganho de peso e fatiga são efeitos colaterais comuns no tratamento, geralmente relacionados à manipulação serotoninérgica. A disfunção sexual induzida por antidepressivos (perda do desejo sexual, retardo ou falta de orgasmo e\ou ejaculação e dificuldades de ereção) são problemáticos em pacientes em tratamento de longo prazo e a incidência com ISRS e venlafaxina chega a 73% (Montejo et al. J Clin Psychiatry. 2001;62(suppl 3):10–21)
O ajuste da dose no caso dos ISRS pode ajudar mas há maior risco de recaídas e ou recorrências em doses menores. Drug holidays (no qual se escolhe um dia da semana para não tomar o comprimido) tendem a diminuir a confiança do paciente no tratamento. Tratamento adjunto ou a troca do antidepressivo para outro sem ação serotoninérgica pode ser uma solução eficaz.


Embora os efeitos colaterais dos antidepressivos reduzam com o passar do tempo, os pacientes tendem a abandonar o medicamento logo no início do plano terapêutico. Assim, clínicos devem personalizar o tratamento de acordo com a eficácia e a tolerabilidade e gerenciar adequadamente os efeitos adversos que emergem no curso da terapia, de forma a manter a adesão e atingir a remissão do quadro.

Para ajudar pacientes "sensíveis" a tolerar o tratamento:

melhorar o bem estar do paciente é o alvo, ao invez de se atingir uma determinada dose!

1. Start low and go slow - comece por baixo e suba a dose devagar. Pacientes que apresentam múltiplos efeitos colaterais podem precisar de mais tempo para se acomodar à nova medicação.

2. Examine fatores psicodinâmicos - pacientes podem ter dificuldades com figuras de autoridade (o médico) devido a experiências desapontadoras com os pais na primeira infância. Em pacietnes traumatizados, objetos relacionais internalizados consistem em figuras de autoridade como figuras que causam dor e podem agir (act out) contra o medicamento. Ao se entender a psicodinâmica do paciente pode-se entender melhor as nossas reações contra-transferenciais e planejar-se intervenções mais eficazes para ajudar estes pacientes a tolerar o medicamento.

3. Aceite a sensibilidade do seu paciente

Tomada de decisões no tratamento da depressão: balanço entre eficácia e tolerabilidade entre as opções de tratamento contemporâneas

O consenso em todos os guidelines (guias) de tratamento atuais é que os antidepressivos devem ser a primeira arma terapêutica no tratamento da DM. Infelizmente 60% dos pacientes não atingem remissão após o tratamento inicial da depressão.

Lembre-se: RESPOSTA é a redução de 50% dos sintomas (desde a linha base)
REMISSÃO é um estado sem sintomas, que reduz o risco de recaídas e melhora o funcionamento físico e social.



Para ler mais: Stahl´s Essential Psychopharmacology Online - sinto muito mas este link é só para quem subescreve ou para usuários do sistema Athens das Universidades inglesas (e outras européias). Pergunte na sua universidade para ter certeza.

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