sábado, 18 de setembro de 2010

Psicopatologia e manejo do luto

Fases do luto (reação à perda) - do luto à melancolia
  • choque
  • negação
  • culpa (e depressão)
  • agressividade (e ansiedade)
  • agressividade contra o objeto perdido
  • restituição
Luto patológico - mecanismos de cura

1. ultrapassar a fase de negação
  • Terminar com rituais que atenuam a presença do falecido (fotografias, conversas imaginárias, limpeza de roupas, cheiros)
  • Imaginar o estado real do falecido - idas ao cemitério, verbalizar o estado em que estará, confrontar com fotografias, observar ossos e caveiras
  • estimular o choro, por ex., perante roupas ou objetos pessoais que já não servem para nada
  • enfrentar os locais onde viria com o falecido e onde ele já não está
2. ultrapassar a fase de culpa
  • investigar e verbalizar possíveis remorsos ou sentimentos de culpa em relação à morte
  • saber se o paciente alguma vez desejou a morte do falecido
  • verbalizar e representar a culpa até a exaustão (gritar, escrever - incluindo cartas ao falecido)
  • imaginar o castigo que seria devido à culpa
  • no fim do processo, dramatizar a culpa
3. ultrapassar a fase de agressividade
  • permitir que o indivíduo seja temporariamente agressivo para com os outros, incluindo o próprio terapeuta
  • usar mecanismos de deslocamento da agressividade (fotografias, bonecos) e estimulá-la
  • promover expressões verbais (gritos) e destruição de objetos da agressividade deslocada
Foto:http://susancorso.com/seedsforsanctuary/?m=201001

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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Psicopatologia da consciência

Qualidades da consciência (estado momentâneo)
  • continuidade
  • reflexibilidade
  • clareza
  • orientação
Turvação, obnubilação, confusão, desorientação, delírio ocupacional, vivências do tempo, hiperfrenia, desagregação, estado crepuscular, hiper e hipoprosexia, distractibilidade, fascinação, concentração, atenção expectante.

Vigilância - pode ser objetivada (ex, beliscar o paciente)
Clareza - avaliação qualitativa. Pode-se compreender que o paciente tem conteúdo claro (está bem desperto)
Obnubilação (flutuação da consciência) - Na turvação conteúdos imaginários aparecem
Estado onírico
Estado oniróide - tem a ver com situações nas quais a vigília coexiste paralelamente à imaginação
Alucinose - visão no espaço exterior sem convicção de realidade
Alucinação - percepção no espaço exterior com convicção

Amplitude (campo de consciência): hiperprosexia (aumento do campo), infrequente
aumento da antenção espontânea, aumento da tenacidade - redução no campo.

Consciência de si

Identidade (evolução ao longo do tempo), unidade, atividade, limites
transexuais: apresentam conflitos entre a consciência de si e consciência do corpo (a consciência de si geralmente ganha)
despersonalização, dissociação, personalidade alternante, sósias, biloculação (sensação de viver aqui e em outro lugar), autoscopia, desintegração
roubo, inserção, eco do pensamento, influência, passividade, hiperatividade, hipoatividade, divulgação do pensamento, transitivismo (apropriação, projeção)

Consciência do corpo

transexualismo, dismorfofobia, membro fantasma, negligência, anestesia, hiperestesia, alienação, transformação, autopoagnosia, anosognosia

Delírio do sósia: hiperidentificação (Síndrome de Capgras): o indivíduo convence-se de que uma pessoa conhecida foi substituída por estranho.
hipoidentificação (Síndrome de Frególi): convence-se de que pessoa desconhecida é familiar.

Foto: http://strangeworldofmystery.blogspot.com/2008/03/doppelganger-evil-twin.html

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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Psicopatologia dos Impulsos


Jaspers: Impulsos mais evoluídos (em ordem decrescente)
  • impulsos intelectuais
  • impulsos vitais - criativos, psíquicos, existenciais
  • impulsos somátivo-sensoriais
Maslow: Impulsos menos evoluídos (do mais para o menos)
  • necessidade de auto-realização
  • necessidade de saber
  • necessidade de reconhecimento
  • necessidade de amor e pertença
  • necessidade de segurança
  • necessidades fisiológicas
Enquanto os impulsos inferiores não estiverem completamente desenvolvidos, não se desenvolve os outros. Esta hierarquia obedece a estratificação cerebral.

Patologias dos impulsos
  • desintegração dos níveis superiores (demência)
  • cisão dos níveis impulsivos entre si
  • inversão da relação entre os níveis
  • fixação dos impulsos
  • transformação dos vícios
Dinâmica entre vontade e impulsos

Adequação vontade/impulsos:
direta
indireta (mobilização de emoções)
recurso a comportamentos laterais

Inadequação entre a vontade e impulsos: forçar atividades fisiológicas

Conflitos entre a vontade e impulsos: mecanismos de defesa

Fundo vs. Transfundo (K. Schneider)

Explica como um estado emocional (tristeza) se transforma em um estado de humor (depressão). Se tristeza pode virar fundo (ex, quando faz anos fica triste), tem sempre um fundo depressivo. Quando ocorre uma depressão reativa pode deprimir muito. Em geral, fundo depressivo significa perda.
Para entender melhor o conceito de transfundo, um exemplo: Uma pessoa que, sem qualquer razão aparente, explode em uma crise de raiva. Pode ser que esta crise seja causada por uma situação à qual esta pessoa não reagiu e de repente, um dia, a emoção inunda o campo vital deste indivíduo. Pode ser que uma pessoa está no trabalho e, sem nada acontecer, começa a chorar ou fica com raiva. São reações adiadas.

Emoções:
  • raiva
  • paixão
  • tristeza
  • medo
  • ansiedade
  • angústia
  • melancolia
  • saudade
  • alegria
  • felicidade
Emoções básicas (Elkman): surpresa, cólera, alegria, repugnância, tristeza, medo

Emoções complexas: vergonha, culpa, orgulho, humildade, admiração, compaixão, inveja, ciúme, simpatia, amor, paixão

Vergonha vs. culpa
Vergonha é o que sentimos quando outros invadem nosso espaço privado
Culpa é o que sentimos quando invadimos o espaço de outros
São sentimentos de transgressão.

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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Psicopatologia Compreensiva

Psicopatologia fenomenológica: baseia-se na nossa capacidade de empatizar com os outros.
imitação - mais externo que interno
identificação - externo e interno
compreensão - mais interno que externo

"O primeiro passo para a a apreensão científica do psíquico é separar, delimitar, distinguir e descrever determinados fenômenos vividos, que assim são representados claramente e designados regularmente por uma determinada expressão" Karl Jaspers

Indivíduos estão todo o tempo a elaborar juízos de valor e juízos reducionistas.

Este ramo da ciência entende o paciente como:
  • objeto significativo - para o observador (apresentação, postura, morfologia, mímica e expressão, motricidade, contato, linguagem e obras)
  • objeto de intenções viradas para o mundo (impulsos, vontade, sentimentos)
  • objeto de si próprio - consciência (estado momentâneo da consciência, continuidade, reflexibilidade, clareza, orientação, campo e atenção)
  • construtor de signos - a percepção de objetos reais (pensamento, raciocínio ou forma, juízos, conteúdos, representação, imaginação, concentração e recordação, sensopercepção)
Compreensão estatística
É a compreensão do fenômeno a primeira vista. Se coisas são significativas ou não.

Compreensão dinâmica
Ecadeamento de sintomas: procura motivos para o fenômeno.

Compreensão/Explicação

Reação
Corresponde a qualquer acontecimento da vida que fez mudar o mode de ser. Desaparece após acontecimentos. Como exemplo, reação fóbica, reação paranóide, obsessivo ou paranóide.

Desenvolvimento
De uma reação a uma mudança que se perpetua

Crises
Períodos específicos: saída de casa para escola, adolescência, crises conjugais

Fase
Um indivíduo com uma personalidade, sem qualquer motivo aparente de repente muda. Ex: uma pessoa que de repente fica muito feliz/eufórica. Se volta ao normal é uma fase. Ex: fase depressiva, maníaca. Implica em volta ao normal.

Surto
Houve uma mudança e a pessoa nunca mais volta a ser o que era.




Processo
Há uma situação em que a pessa muda e não volta mais a ser o que era.



Patologias

Doenças compreensíveis (reações, desenvolvimentos e crises)
Reações neuróticas, neuroses instituídas
Perturbações de personalidade
Reações paranóides e estados iniciais das paranóias
Crises ansiosas e depressivas

Doenças incompreensíveis (não explicadas - surtos, processos e fases)
Esquizofrenia
Mania e depressões endógenas
Psicoses atípicas

Doenças incompreensíveis, mas explicadas por alterações corporais (processos e ataques orgânicos)
Síndrome cerebral orgânica
Psicoses sintomáticas e orgânicas

Na Psicopatologia Compreensiva a percepção de um objeto é de todas as perspectivas (mesmo que não veja um lado, imagina-se). Implica em transcendência e na capacidade do examinador em transferir-se para outros para entender, colocar-se no lugar do objeto. Pertencemos uma comunidade inter-subjetiva (todos colocamo-nos no lugar dos outros) com exceção de esquizofrênicos.

Avaliação da esquizofrenia na psicopatologia compreensiva:

Apresentação
Bizarra, excêntrica, extravagante, pretenciosa, amaneirada, desleixada, subcultural

Postura
Retraída (em reflexão), defensiva, expansiva, desafiadora, rígida, catatônica, flexibilidade cérea, catalepsia, distônica, inadequada

Morfologia
Endomórfica - mais virados para si
Mesomórfica - mais preparados para ação, para si
Ectomórfica - mais sensíveis ao mundo
Dismórfica

Mímica, expressão, motricidade
Hipermimia, hipercinesia, amimia, acinesia, paramimia (expressões mímicas contraditórias), paracinesias
Agitação, inquietação, acatisia, taquicinesia, discinesia, rituais compulsivos, tiques, maneirismos (movimento normal dentro de movimento com sentido), estereotipias (movimentos sem sentido), sincinesias, automatismos, córeo-atetose, mioclonias, tremores, apraxia, ataxia, abasia.

Contato
Expansivo, defensivo, submisso, sugestionável, em oposição, negativismo, autismo, indiferente, empátivo, mimético (ecopraxia, ecolalia), superficial

Linguagem e voz
Mutismo, verborréia, verbigeração, perseveração, palilalia, logoclonia, pedolalia, coprolalia, afasia, disfasia, disgrafia, afonia, disfonia, dislalia.

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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

As Neuroses (parte 3) - Histeria e Obsessões

Traços de personalidade histérica
Nem todos os indivíduos que apresentam sinais de neurose histérica correspondem à personalidade histérica.
  • histrionismo (constante busca de atenção)
  • hiper-reatividade emocional (labilidade, comportamentos encenados)
  • afetos factícios (dramatização)
  • egocentrismo
  • sugestionabilidade
  • mitomania (falsificação da realidade)
  • pensamento imaginário (percepção do real infiltrado pelas fantasias)
  • dependência afetiva
  • perturbações sexuais (evitamento ou erotização das relações interpessoais)
Forma mono ou paucissintomática
perda ou alteração de uma função física (conversão)
caráter único do sintoma ao longo do mesmo episódio, embora possa variar de um episódio para outro
persistência do sintoma para obter "benefícios"

Forma polissintomática: Síndrome ou doneça de Briquet
queixas somáticas múltiplas e persistentes
sintomas de conversão múltiplos com fundo ansioso e labilidade emocional

Formas clínicas presentes na CID-10 e DSM-IV-TR

Perturbação ou Transtorno Somatoforme: dores gastrointestinais, pseudoneurologicas, conversão (déficits e sintomas sem correspondência orgânica), dano ou lesão sugerindo afecção neurológica, hipocondria, dismorfofobia.

Formas de somatização (em gravidade crescente):
somatização propriamente dita
conversão
equivalentes afetivos
perturbação psicossomática
hipocondria
Estas perturbações não tem origem orgânica, não são produzidas intencionalmente (patomínia) nem simuladas (transtorno factício)

Perturbação ou transtorno de conversão: sintomas que envolvem motricidade voluntária ou as funções sensitivas ou sensoriais. Sugerem uma perturbação neurológica que não existe.

Perturbações ou transtornos dissociativos: alterações de funções como consciência, identidade, memória ou a percepção.

Interpretações patológicas

A Histeria de Angústia
difere da conversão pelo fato de nesta última o afeto poder ser transformado em manifestação somática dotada de um sentido, que os indivíduos não compreendem, enquanto que na histeria de angústia o recalcamento desencadeia uma angústia que é deslocada.

Neurose obsessiva
Constroi-se a partir de um sintoma "obsessão" (perturbação do pensamento) que não é o único sinal do quadro nem específico desta entidade.
Diferentes abordagens deste quadro:
as obsessões como sintoma (também em outros quadros)
Neurose obsessiva, na qual se encontram, mas não é exclusivo
O TOC, nova definição da neurose obsessiva
a personalidade obsessiva
ato complusivo - diminui a ansiedade que a ideia obsessiva produz. Geralmente associado a uma ideia obsessiva.

Ato impulsivo - primário, passagem ao ato
Ato compulsivo - o indivíduo luta contra o ato

As defesas obsessivas são mecanismos de defesa (isolamento, anulação retroativa, formação reativa) que se encontram na neurose obsessiva, mas também noutras perturbações, bem como em indivíduos normais. A estrutura obsessiva corresponde a um modo de organização de processos psíquicos, dos mecanismos de defesa e uma relação específica com o objeto de desejo. A doença obsessiva compulsiva é a que mais põe em dúvida a atividade decisória de um indivíduo.

Tratados de Escrúpulos, J. J. Du Guet (1717) - versava sobre os escrúpulos religiosos
As Obsessões e a Psicastenia, Janet (1903) e Freud (1894 e 1896) - descrevem esta entidade pela primeira vez
outros: Mania sem Delírios (pinel), Monomania Afetiva (Esquirol), Loucura com Consciência (Ballanger), Delírio Emotivo (Morel), Loucura da Dúvida (Trelat, 1861), Loucura Relacionada (Falret).
Para Janet, a obsessão aparece como uma psicastenia.

Semiologia da obsessão-compulsão

Ideia, sentimento ou imagem que se impõe de modo incoercível ao indivíduo que (obsidere, do latim, assediar):

reconhece o caráter patológico da ideia
luta contra a mesma, com angústia
reconhece que a ideia emana da sua própria atividade psíquica
está em desacordo com o seu próprio pensamento consciente

tipos de obsessões

ideativas
fóbicas
impulsivas (fobia de impulsão - mais rara, corresponde a maior gravidade do TOC)

Compulsões

Ideia de um ato a realizar, geralmente absurdo, ridículo ou incômodo que se impõe ao indivíduo de maneira incoercível.
O indivíduo não consegue impedir-se de cumprir o ato, apesar de esforços no sentido de evitar realizá-lo.

tipos

verificação
compras
limpeza
acumular objetos

Rituais são uma sequência fixa de atos que o indivíduo considera absurdos mas sente compulsão a realizá-los.
Foto:http://cureanxiety.com/ocd-anxiety

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