quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Álcool e mulher

Nos últimos anos tem-se observado uma mudança dos padrões de consumo típico de álcool. Com a entrada de novas variáveis (como as bebidas desenhadas especificamente para mulheres), o início cada vez mais precoce do consumo de álcool e uma tolerabilidade social ao aumento de frequência dos episódios de embriaguês, não é surpresa que ocorra o aumento do número de mulheres a fazer uso nocivo ou  a serem dependentes químicas do álcool.

As mulheres apresentam uma facilidade inata no estabelecimento da dependência alcoólica, devido a fatores biológicos e psicológicos. Nestes últimos pode-se citar o uso de álcool como automedicação. A "forma de beber" feminina também mudou (o que antes era escondido agora é público e aceitável) leva a novas formas de aprendizagem do ciclo do ciclo de alcoolização, com alterações do comportamento social e da sexualidade.

Especificamente quando se fala de álcool e mulher não se pode deixar de mencionar os Efeitos Alcoólicos Fetais (EAF)
 EAF são todas as condições consideradas secundárias à exposição ao álcool no útero. Entre elas pode-se citar:
  • partos prematuros
  • aumento da mortalidade perinatal
  • baixo APGAR
  • atraso no desenvolvimento neuropsicomotor
  • déficit mental
  • redução da coordenação visuo-motora
  • hiperatividade e comportamento de distração
  • perturbações do sono
  • instabilidade emocional
Álcool e circulação fetal

exige 3 critérios diagnósticos:
1. Déficit de crescimento (baixo peso, microcefalia e deficiente evolução estaturo-ponderal)
2. Desordens do Sistema Nervoso Central
3. Facies característico e outras malformações fenotípicas:
  • redução das fendas palpebrais
  • epicanto e ptose
  • nariz curto com base larga
  • pequeno lábio superior
  • assimetria facial
  • testa curta e abaulada
  • malformações cardíacas e renais

O etanol e o acetaldeído atravessam livremente a membrana placentar. A sua difusão faz-se facilmente e em dependência , somente, do fluxo sanguíneo placentar, segundo um gradiente de concentração.
O álcool pode causar mais danos no estado embrionário, especialmente nos consumos por "surtos": a mulher intoxica-se no sábado, depois novamente na outra semana, etc.
Os efeitos tóxicos diretos do álcool e dos produtos derivados faz-se sentir ao longo de todo o período da gestação. Os efeitos indiretos relacionam-se aos aspectos do metabolismo da mãe alcoólica crônica (malnutrição, depleção de ácido fólico, diminuição da reserva de glicogênio, redução da circulação placentária de oligo-elementos como zinco, etc.)
A extensão e a severidade dos danos ao bebê dependem da quantidade consumida e da época da gravidez.

Síndrome Alcoólico Fetal

3 critérios:

1. Déficit de crescimento (baixo peso, microcefalia e deficiente evolução estaturo ponderal)
2. Desordens do SNC
3. Facies característico e outras malformações fenotípicas:
  • redução das fendas palpebrais
  • epicanto e ptose
  • nariz curto e base larga
  • pequeno lábio superior
  • assimetria facial
  • testa curta e abaulada
  • malformações cardíacas e renais



Álcool e amamentação

A concentração que o álcool atinge no leite é equivalente à concentração atingida no sangue da mãe. A presença do álcool inibe o reflexo de ejeção do leite e provoca alterações no odor e paladar.

Álcool e crianças

Ação direta - quando ocorre ingestão pelas crianças predominando consequências de índole biológica
Ação indireta - quando as crianças sobrem consequencias de viverem numa família na qual existe um elemento alcoólico, predominando sequelas de cariz psicológico e emocional

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O comportamento humano numa perspectiva etológica

Etologia: estudo do comportamento animal

Padrão fixo de ação

Comportamento que é comum a todos os membros de determinada espécie, determinados por estímulos específicos (ex: ovos que escorregam do ninho e a ave os coloca no lugar). Uma vez iniciados, continuam mesmo que o ambiente varie. A sua ocorrência é independente da experiência.
Para entender melhor, veja este filminho aqui

Estímulo sinal

Estímulo simples, mas altamente específico que desencadeia padrões fixos de ação.

Comportamentos inatos

Comportamentos programados (geneticamente?) numa determinada espécie. O comportamento de mamar do bebê humano pode ser considerado um comportamento inato. Crianças que nascem cegar e surdas, quando estão com algum mal estar choram e quando estão felizes sorriem. Mesmo sem nunca ter visto ou ouvido tanto um quanto outro. Dessa forma, chorar e sorrir são comportamentos inatos do ser humano. Outra forma de pesquisar comportamentos inatos é avaliar comportamentos que tenham o mesmo significado em diferentes raças e culturas. Como exemplo, em várias culturas é comum as pessoas erguerem as sombrancelhas, enrugarem a testa e sorrirem quando encontram alguém conhecido.
criança cega e surda sorrindo

Atividade deslocada e atividade redirigida

Surgem quando há tendências para o envolvimento em dois atos diferentes. É uma situação de conflito interno.

Atividade deslocada
 É uma ação fora de contexto: dois galos no mesmo território ou lutam ou fogem. Às vezes em vez de tomar uma das atitudes acima, um galo começa a bicar sementes no chão. Outro exemplo: um rato está com fome, mas tem algo que o assusta na gaiola. Ao invés de comer ou fugir, ele passa a coçar-se.
Nos humanos, esta atividade pode ser vista por exemplo quando um indivíduo está a jogar xadrez e não sabe se joga com a torre ou com o peão. Ao invés de mover as peças, ele coça a cabeça (atividade deslocada). Ou quando um aluno está numa aula tediosa, quer sair da sala e não pode então ele boceja.

Atividade redirigida
Vou explicar com um exemplo: Um macaco está comendo uma banana e o chefe do grupo rouba-lhe a comida e o macaco não o pode agredir. Este macaco então procura outro abaixo de si na hierarquia e o agride.
Nos humanos a atividade redirigida pode ser vista quando se bate a porta quando se está com raiva, dar um murro na mesa, etc...

Movimentos de intenção

São movimentos incompletos ou preparatórios que ocorrem no início de uma atividade. Por exemplo, quando uma ave vai voar, bate as asas antes de iniciar o vôo. Nos humanos pode-se ver indivíduos sentados confortavelmente, que de repente sentam-se eretos, com as mãos no joelho num ato preparatório para se levantar.

Comunicação não-verbal

Quando olhamos para alguém, nosso olhar dirige-se principalmente para os olhos e boca dos nossos interlocutores. Outras formas de comunicação utilizadas são os gestos, que têm diferentes significados nas diferentes culturas (por exemplo, o sinal de OK nos EUA significa dinheiro on Japão e um ato rude no Brasil).


gestos compostos
Implicam em movimento de todo o corpo, como a gargalhada, que leva a cabeça para trás, ergue os ombros, move o tronco e altera a expressão facial.









gestos de batuta: São aqueles que acompanham o discurso.



Por exemplo, a mão firme fechada realça um argumento importante.








Para sublinhar um argumento sutil, utiliza-se o movemnto da mão com o polegar e o indicador fechados.







O indicador em riste indica ameça (como se estivesse com um punhal)









As palmas das mãos viradas para cima imploram, enquanto que as palmas das mãos viradas para frente rejeitam uma idéia.







Da mesma forma, palmas para baixo acalmam uma  audiência e as palmas viradas para si abraçam a multidão, no sentido de "venham a mim".


Sistemas comportamentais

São dividos em sistemas agonístico, sexual e vinculativo

Sistema agonístico
Comportamentos de intenção agressiva e contra-intenção.

Por exemplo, lobos com olhar fixo e caninos expostos, musculatura tensa e pêlo eriçado demonstram intenção agressiva.
Em uma situação normal, numa luta entre lobos não há grandes lesões devido ao mecanismo de contra-intenção. Nele, um dos lobos encolhe-se e fica submisso.


Nos humanos pode-se notar que o olhar fixo e o elevar de comissuras labiais para expor os dentes (mesmo que tenhamos perdido os caninos afiados) também indica comportamento agressivo. Esse comportamento aparece em nós desde idades precoces (como por exemplo em crianças birrentas).


Ritualização

É a mudança de significado de um comportamento com o objetivo de servir uma função de comunicação. Por exemplo, crias pequenas lambem os lábios do adulto para avisar que têm fome e fazem com que os pais regurgitem o alimento. No animal adulto, lamber os lábios de outro tem signifcado de redução de conflitos



Nos primatas atuais, os pêlos dos ombros ficam eriçados quando eles estão em modo de combate, o que faz com que eles pareçam maiores e mais ameaçadores. Os humanos não têm pêlos nos ombros (pelo menos a maioria de nós) e perderam esse mecanismo de expressão. Entretanto, guerreiros humanos em todas as culturas usam artefactos nos ombros nos uniformes de guerra. Isso é uma forma de ritualização no ser humano.



A intenção agressiva também manifesta-se por ritualização de lutas: os punhos fechados elevados (como numa manifestação) ou o dedo em riste (punhal) são ritualizações. Assim como o leve tapa na cara de outra pessoa, de forma irônica. Não dói fisicamente, mas é uma afronta ao ego.


hierarquia/estatuto
Os cães, quando assumem posição superior na matilha, apresentam-se com orelhas em pé e cauda elevada para parecerem maiores. O que tem posição inferior fica encolhido, com o rabo entre as pernas e orelhas para trás.


Nos humanos observa-se o corpo tenso, exibição de órgãos sexuais (como por exemplo a posição de sentido dos coronéis perante os soldados)

contra-agressão - sinais para regular a agressão
 Sinais infantis - emissão de um sinal infantil para apaziguar. Esses sinais de proteção em relação às crias fazem parte do sistema de comportamentos epimileticos (epimiletic behaviour).


Grooming - catar parasitas. Mães catam piolhos nos primatas, cães lambem suas crias. Os primatas adultos continuam a catar parasitas uns nos outros pois este comportamento acalma e diminui a tensão no grupo.
Pode-se usar sinais sexuais também para regular a agressão: o macho faz monta ritualizada em outro macho (que é o submisso na hierarquia).
Sinais de antítese expressiva - exposição de áreas vitais e vulneráveis do corpo, desviar o olhar.
Por exemplo, nos humanos, o abraço diminui a ansiedade e o ato de colocar a cabeça no ombro de outro é um sinal de submissão. Em culturas primitivas ainda observa-se o "catar".
Também o fato de fletir o joelho ou o tronco (por exemplo a vênia a reis) é um sinal de submissão entre nós, que pode até mesmo ser a ideais abstratos, como o fletir os joelhos na igreja.



Sistema sexual

Fêmeas no cio indicam o início dos rituais de corte

Em situação de flerte, as pessoas primeiro olham o alvo de forma bastante fugidia, desviam o olhar, sorriem e voltam a olhar fugidiamente, desviam o olhar novamente e muitas vezes tapam a boca. Isto acontece em todas as raças e culturas. É uma ritualização da aproximação e fuga.

Uma das formas de aproximação é a exibição de características sexuais secundárias (por exemplo, o pavão com penas exuberantes).

No século XVIII as pessoas andavam completamente vestidas mas as roupas marcavam a cintura e apliavam as ancas (superestímulo das características sexuais secundárias).
Em culturas primitivas, as mulheres chamam a atenção para as ancas.






Hoje em dia, a roupa é pouca e assim nossa cultura faz com que os homens tenham que exibir costas largas e musculatura e as mulheres exibem as ancas redondas (idela de beleza). Pupilas dilatadas também são mais atraentes pois implicam excitação sexual.
 
Sistema vinculativo
 
É o sistema de cuidado com as crias. É inato à espécie humana responder com sinpatia a estímulos redondos, com olhos grandes (como os bebês) - é um estímulo sinal
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 
 
 
 
 
 
Território - espaço indiviual. Só permitimos que sejam ultrapassadas as fronteiras aos que são de relação íntima. Usamos de gestos também para criar barreiras entre nosso mundo e o mundo exterior, como por exemplo o cruzar de braços.


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Concepção psicodinâmica das neuroses

  • Papel fundamental da infância (transformações do Complexo de Édipo)
  • papel do recalcamento dos desejos edipianos que permanecem ativos e tendem a reaparecer (como por exemplo, sob o efeito da sexualidade adolescente ou adulta)
  • retorno do recalcamento ameaçando o Eu
  • aparecimento da doença como efeito da tentativa de resolução do conflito entre o retorno do recaldado e o Eu, entre o desejo e o interdito
  • utilização de Mecanismos de Defesa (secundários) contra os efeitos negativos da tentativa de resolução do conflito
  • O sentido inconsciente dos sintomas, a que o doente não acede


A triangulação

A neurose é consequência de fenômenos precoces que se referem ao período edipiano. A não resolução de conflitos edipianos constitui a "neurose infantil", organização inconsciente que "decide" o destino posterior da vida afetiva e da patologia. Aquilo que se designa por "neurose infantil" corresponde à estrutura, à organização psíquica na qual se vai constituir a neurose do adulto.
O conceito de "fixações pré-edipianas" diz respeito à adesão da pulsão a objetos ou a tipos de satisfação associados a fases do desenvolvimento.

Fenômenos organizadores: sorriso, angústia da separação, a palavra Não

O recalcamento



Os desejos edipianos (infância) são recalcados (remetidos ao inconsciente) como sendo inaceitáveis ao Eu.
A "ameaça de castração" surge como o motor deste conflito: a criança teme um ataque ao próprio corpo, em virtude dos seus desejos amorosos ou agressivos, temor que se inicia pelo congronto com a diferença entre os sexos.
O recalcamento não regula o conflito e a libido permanece fixada (fixação) na fase de desenvolvimento infantil (Édipo), em determinados modos de satisfação e a certos objetoc pré-edipianos

Segundo a perspectiva psicodinâmica a diferença entre o sujeito normal, o futuro adulto neurótico e a "criança neurótica" prende-se ao aspecto quantitativo dos efeitos do conflito e do recalcamento.

O retorno do conteúdo recalcado e o desencadeamento da neurose

Entre o período edipiano e a adolescência a sexualidade está bem mesnos presente e dominam a sublimação e as identificações aos adultos. Esse período é chamado de Fase de Latência. Há um equilíbrio entre os desejos inconscientes e as concepções do Eu.
Circunstâncias pulsionais ou exteriores, que têm capacidade de reativar os desejos podem desencadear os sintomas neuróticos. Assim, na adolescência as representações inconscientes podem tornar-se mais prementes, sendo os conflitos reativados: o recalcado tente a retornar, mas tende a desaparecer e deformar-se, não perturbando o funcionamento do Eu.
O reaparecimento dessas representações suscita angústia e conflito e as mesmas são objeto de um novo mecanismo de defesa: recalcamento, conversão, deslocamento ou transformação dos afetos em angústia. Isso acarreta , potencialmente, a neurose propriamente dita.

O sintoma



O sintoma responde aos mecanismos de deslocamento e condensação própria dos fenômenos inconscientes ( aparece o sintoma no lugar do desejo). O próprio sintoma pode ser objeto de novo mecanismo de defesa (mec. de defesa secundário), que visa proteger o indivíduo contra os efeitos desse sintoma. Um exemplo é a fobia neurótica, na qual ocorre deslocamento da angústia e evitamento do objeto.
Admite-se que o sintoma acarrete benefícios para o indivíduo (primeiramente, realiza o que estava recalcado e em segundo lugar, leva a atenção e a evitamento de conflitos). O conflito neurótico é fundamentalmente de natureza pulsional (desejo). Não existe neurose na ausência de uma organização edipiana.

Tipos de Neuroses

"Neuroses atuais"  - neurose de angústia, neurastenia, hipocondria

A origem ocorreu não na infância, mas na vida atual. Os sintomas não são símbolos sobredeterminados (ou seja, não têm sentido oculto). A origem é fundamentalmente sexual, embora se trate de instaisfação da pulsão sexual. A dimensão somática dos sintomas é preponderante (astenia, cenestopatia, ansiedade, etc.). Tudo isso leva a que o tratamento psicoterápico não tenha efeito tão positivo sobre estas neuroses.
As "neuroses atuais" correspondem ao que se chama hoje de transtornos depressivos (exceto a depressão endógena), manifestações ansiosas e ao transtorno de estresse pós-traumático.

Psiconeuroses de transferência - Fóbica, TOC, histeria

geralmente têm origem na infância, através de uma perturbação que se origina em conflitos precoces e recalcamento (mec defesa preponderante). O sintoma tem um sentido e a relação de objeto é genital  (enquanto na estrutura psicótica é fusional e nos estados-limite é anaclítica).
A angústia de castração predomina (ainda que se trate de uma angústia de fragmentação na estrutura psicótica e de perda de objeto no estado limite, por exemplo, pacientes borderline sofrem de angustia de separação ou perda do objeto). O recalcamento dos desejos (como agressividade e afetividade) é preponderante para a origem destas perturbações. O sintoma tem um sentido, que pode ser (re)construído pela palavra, no espaço da transferência. O trabalho psicoterápico possui um efeito, vindo o desaparecimento do sintoma por "acréscimo" à compreensão ou interpretação dos "fantasmas".

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terça-feira, 27 de outubro de 2009

Neuroses - uma introdução

Perspectiva histórica


Em 1769 o médico escocês William Cullen propôs o termo neurose (perturbação de origem nervosa na qual não se verifica febre ou qualquer lesão perceptível), entretanto o termo neurose só passa a ser usado em 1845. Charcot continua a investigação das neuroses, contudo sempre buscava associá-las a uma etiologia orgânica (como se fosse uma doença do sistema nervoso).
Freude, a partir de 1892, e Janet em 1983 (ambos discípulos de Charcot) continuam o estudo das neuroses durante o processo no qual a Psiquiatria se libertou do interesse exclusivo pela alienação e etiologia orgânica.

William Cullen


Perspectiva descritiva

As neuroses são transtornos mentais (qualquer que seja sua expressão) que não comportam nenhuma etiologia orgânica demonstrável. Como entidades, elas não perturbam a relação com a realidade ou o sentimento de identidade do indivíduo. Os sintomas são experimentados pelo doente como fenômenos indesejáveis, em ruptura com a idéia que tem o mesmo de si próprio.
As neuroses constituem-se em uma classe homogênea de perturbações e opõe-se a outras classes (psicoses) a nível
  • descritivo - semiologia, sintomatologia
  • explicativo - psicopatológico, biológico, fisiológico, etc...
Semiologia das neuroses

Sinais:
  • afetivos (angústia)
  • comportamentais (por exemplo, evitamento)
  • pensamento (obsessão)
  • comunicação (por exemplo, a procura afetiva)
  • personalidade (Aqui temos um componente que remete para a inibição. Há alguma organização da personalidade: É muito inibida, introvertida mas é uma personalidade coesa, ao contrário de uma estrutura de personalidade psicótica)
O doente neurótico reconhece os sintomas como patológicos:
  • está frequentemente angustiado
  • as várias esferas vivenciais (afetiva, sexual, profissional, etc.) estão limitadas pela doença
  • sente-se incapaz de lutar contra os sintomas
  • a sua personalidade (maneira de ser e sentir) está estruturada de um modo que desencadeia acentuadas dificuldades na vida quotidiana
Angústia - fenômeno sobretudo psicológico, com categoria filosófica. É um sentimento penoso de espera, medo sem objeto , temor de um perigo impreciso. A angústia diferencia-se do medo devido ao último apresentar um perigo e um objeto real.

Ansiedade - apresenta-se com manifestações exteriores, visíveis (sudorese, palidez, calafrios, etc.)

A angústia é uma experiência comum, associada à vida e à condição humana. É um fenômeno normal, fator de criação.

Angústia normal e angústia patológica


O melhor critério para diferenciar uma da outra é a tolerância do indivíduo à angústia. A angústia é patológica quando é vivida como um sentimento que ultrapassa as capacidades de controle, se repercute na vida do indivíduo, limita os seus programas de ação, a sua atividade e as suas capacidades de sentir prazer.
Lembre-se que a angústia pode expremir-se de maneira aguda (crises de angústia)

Ansiedade crônica

Estado de tensão interior penoso, apreensão permanente que pode amplificar-se e assumir diferentes formas (ruminações perjorativas do passado, interrogações pessimistas relativas ao futuro)

Formas de angústia patológica

Neurose de angústia
A angústia é livre, flutuante, constitui o essencial da sintomatologia clínica

Neuroses sintomáticas "estruturadas"
A angústia está "ligada": angústia convertida em sintomas somáticos (histeria), emergindo em determinados contextos (fobias) e obessões. O termo "estruturada" indica a presença de mecanimos de defesa mais ou menos elaborados e eficientes, destinados a controlar o extravazamento emocional.
Os sintomas neuróticos constituem a expressão clínica.

Qualificativo "neurótico"
Designa a forma (pouco grave e compreensível) ou a origem psicopatológica (produzida pelo recalcamento) e as manifestações que podem ocorrer numa personalidade normal ou neurótica (não psicótica, não estado-limite).
Estabelece uma distinção explícita entre angústia neurótica e angústia psicótica (tão avassaladora que fragmenta o indivíduo)

Manifestações subjetivas da angústia
  • inquietação intensa e sentimentos de ameaça grave
  • sentimento de morte iminente, de perder a razão
  • sentimento de desrealização, despersonalização
  • temor reconhecido como patológico pelo indivíduo
Manifestações comportamentais da angústia
  • agitação psicomotora
  • embotamento da atividade
  • sideração estupurosa (estupor)
  • comportamentos de evitamento (fobias)
  • comportamentos defensivos (rituais)
Manifestações somáticas
  • esfera cardiovascular (dor, taquicardia, rubor, palidez)
  • esfera respiratória (dispnéia, tosse, hiperventilação)
  • esfera digestiva  ("aperto na garganta", náusea, aerofagia)
  • esfera genitourinária (dores abdominais, inibição sexual)
  • esfera neuromuscular ("cabeça vazia")
As neuroses podem compreender transtornos muito próximos:

Somatizações (queixas somáticas baseadas em sensações corporais pouco ou nada explicáveis para a existência de transtornos somáticos).
Embora mais frequente na neurose, as somatizações não são encontradas em todas as neuroses (por exemplo, quase não se encontam nas fobias e TOC e são muito comuns nas histerias).
Outras patologias podem apresentar fenômenos próximos como por exemplo as psicoses (hipocondria e dismorfofobias na esquizofrenia; delírios paranóides sistematizados como a Síndrome de Cotard) e os estados-limite.
Uma dica fácil para diferenciá-las é que o neurótico sempre duvida da realidade do transtorno enquanto o psicótico acredita nele.
Déficits da motricidade voluntária e ou sensibilidade - conversão
dores psicogênicas ou exacerbadas
Cenestopatias - sensasões corporais desagradáveis, interpretadas como sinais de doença (preocupações hipocondríacas)
Preocupações relativas à imagem corporal (dismorfofobias)

Angústia e transtornos do pensamento

Crenças irracionais
Obsessões, fobias, sintomas histéricos ou hipocondríacos, pensamento mágico (TOC)
Sentimentos de culpabilidade, de erro, de proximidade de uma saída fatal ou de uma infelicidade inevitável, podem estar associados a crenças irracionais (evitamento, rituais, confiança, "fuga para frente" ou acting out)

Pensamentos incontrolados
Obessão como idéia intrusiva, que incomoda e é reconhecida como patológica e a compulsão ou idéia de um ato frequentemente absurdo, que tem de ser cumprido para lutar contra a obsessão.
Ruminações mentais: preocupações e interrogações negativas sobre o futuro, perturbam a vida mental do indivíduo. As ruminações "abrem caminho" para os pensamentos depressivos, para dúvidas permantes.

Perturbações da memória
Amnésias psicogênicas (histeria). Notar a ansiedade como fator importante das perturbações mnésicas

Sentimentos de insegurança e intranquilidade

Mecanismos de defesa nas Neuroses
*os mecanismos em azul são os mais utilizados
  • identificação
  • agressão passiva
  • antecipação
  • recusa
  • anulação
  • intelectualização
  • recalcamento
  • racionalização
  • isolamento dos afetos
  • idealização
  • repressão
  • clivagem
Lembre-se: nas PSICOSES os mais utilizados são clivagem (menos evoluídos psicológicamente) e projeção
I Am A Bundle of Neuroses Painting by Pauline Lim



Angústia e traços de personalidade

Angústia estado (transitória)
Angústia traço (estável)
Angústia tipo de personalidade (personalidade evitante)

Traços de transtorno ou de personalidade neurótica

  • impossibilidade de tomar decisões, de agir (com frequencia reage impulsivamente)
  • dependência de outros
  • necessidade de ser tranquilizado ou protegido
  • receito da avaliação de outros
  • incapacidade de lutar contra as suas próprias tendências (reconhecidas como patológicas, incômodas ou disfuncionais)
  • angústia da solidão
  • baixa auto-estima, falta de auto-confiança
  • procura dolorosa de si mesmo
  • dramatização ansiosa das situações
  • impossibilidade de estabelecer relações espontâneas
  • todos os fenômenos são sentidos como egodistônicos
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Introdução à Psicopatologia psicodinâmica - o quê, quando e como


Semiologia descritiva - descreve sinais e sintomas
Semiologia compreensiva - compreende o indivíduo na sua patologia e no seu contexto psicossocial: a psicopatologia psicodinâmica está nesta categoria.

Lembre-se: as doenças psíquicas são multifatoriais

O adoecer psíquico compreende
  • o conteúdo psíquico (ansiedade, depressão)
  • o conteúdo somático (doença mascarada, somatizações)
  • o caráter (transtornos de personalidade, dependências, transtornos alimentares)
A perda da "Neurose":

Na CID-10 ainda encontramos a classificação "Transtorno Neurótico". No DSM-IV o termo não se aplica.
Os termos neurose e neurótico podem ser usados nas seguintes acepções:
  • grupos de doenças que se opõe às psicoses
  • forma particular de organização da personalidade ou de estrutura, que não corresponde necessariamente a uma patologia reconhecível por sinais precisos
O DSM-IV é uma descrição exaustiva de sinais e sintomas que não aprofunda na psicopatologia (conteúdo explicativo). Ele apresenta duas vantagens: permite maior rigor científico para investigação e permite separar (investigar) mecanismos biológicos em separado.

Sintomas homólogos: sintomas que se afastam do normal pela QUANTIDADE (ex.: neuroses)
Sintomas heterólogos: sintomas que se afastam do normal pela QUALIDADE  (ex: psicoses)
Um jeito fácil de distinguir uma da outra: insight e juízo crítico -  preservados na neurose e reduzidos na psicose.

Egodistonia: estranheza para o eu (neurose)
Egossintonia: reconhecidos pelo eu (psicose)

Na psicose os mecanismos de defesa mais utilizados são clivagem (corte, dissociação entre "parte doente" e a parte sã") e projeção.
A angústia do neurótico é organizadora, parece ter alguma estruturação. A angústia psicótica fragmenta o indivíduo.

Conceito de "transtorno neurótico"

Concepção sindrômica - DSM-IV-TR
Um transtorno define-se por um conjunto de sinais podendo as etiologias ser múltiplas, sem tomarem em consideração as concepções psicopatológicas.

Concepção psicopatológica
Um transtorno supõe uma etiologia e uma patogenia específicas, que permitem explicar ou compreender os diferentes sinais.

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Características do alcoolismo na família



Abaixo, alguns tópicos importantes sobre as características da família e do ambiente familiar alcoólico. Estas noções devem fazer parte do entendimento de profissionais que lidam com pacientes alcoologistas como psicólogos, médicos e terapeutas familiares. Muitas vezes tratar o paciente alcoólico não é suficiente pois a alteração de papeis familiares durante o processo de doença do paciente pode levar a atritos na sua sobriedade com risco de recaídas.


Múltiplos factores podem causar o alcoolismo: genéticos, ambientais, sociais, psicológicos ou culturais, entretanto sabe-se que filhos de alcoólicos são 4 a 6 vezes mais vulneráveis à doença.

O alcoolismo e a sua negação na família afectam significativamente o desenvolvimento e a transmissão de papeis através de mecanismos da aprendizagem social, modelagem e dos processos psicológicos de imitação e de identificação.

O doente: tem baixa auto-estima e baixa tolerância à frustrações

Famílias alcoólicas são caracteristicamente rígidas e não lidam bem com mudanças.

Famílias que reagem melhor à mudança apresentam:
-melhor comunicação entre membros
-clara separação de gerações
-maior tolerância e respeito da individualidade de cada um
-maior flexibilidade de papeis

As famílias alcoólicas são geralmente sistemas rígidos, com dificuldade de lidar com mudanças, nas quais o surgimento de um problema pode desencadear graves crises ou rupturas. Estas crises podem ser exemplificadas por:
-delinquencia
-desemprego prolongado
-nascimento de um filho
-doença prolongada de um membro
-identificação de um membro como alcoólico

O problema do alcoolismo não diz respeito apenas à pessoa que consome o álcool. Os membros da família, as pessoas mais próximas são particularmente atingidas.
Assim, o alcoolismo pode ser definido como uma DOENÇA DO SISTEMA FAMILIAR, uma vez que cada um está envolvido, quer no processo de desenvolvimento do problema, quer na sua resolução.

Alguns alcoólicos conseguem manter o equilíbrio familiar durante muito tempo, o que leva à NEGAÇÃO da doença por parte da família.

3 tipos de reação da família:

  1. Negação familiar e social do álcool como um problema
    • minimização do problema
    • procura justificações para os consumos excessivos do membro alcoólico
    • gestão irracional (irresponsável) da economia familiar
    • redução das responsabilidades
    • Pode ocorrer separação ou divórcio
  2. Vida familiar e social caótica
    • crescente agressividade nas relações conjugais e familiares
    • dificuldades econômicas crescentes
    • sentimentos de auto-piedade, depressão, doenças emocionais reactivas
    • dificuldade no relacionamento sexual - que pode levar a delírios de ciúmes
    • Pode ocorrer separação ou divórcio
  3. Reestruturação familiar
    • o indivíduo alcoólico fica à margem na nova organização familiar
    • estabelecimento de novas regras
    • alteração na hierarquia, coligação e alianças familiares
    • alterações de papeis familiares, assumindo o cônjuge não alcoólico o lugar de "chefe da família".
Papeis observados em famílias alcoólicas

  • o defensor
  • o protetor - desculpa tudo o que o alcoólico faz
  • o revoltado
  • o herói - para tirar a atenção do alcoólico, tira as melhores notas, contra todas as perspectivas
  • o acusador - todas as desgraças familiares são culpa do alcoólico
  • o passivo - isola-se do convívio familiar
A família alcoólica é aquela em que o alcoolismo crônico de um dos membros se torna o fenômeno de toda a vida familiar. Isso leva a características como:
  • ambiente caótico
  • inconsistência, irresponsabilidade
  • papeis indefinidos
  • arbitrariedade
  • alteração dos limites individuais
  • discussões
  • pensamento ilógico

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segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A assustadora história da medicina - Radovan Karadžić o psiquiatra genocida

Há muito tempo atrás, quando estava nos primeiros anos do curso de medicina, li um livro chamado "A Assustadora História da Medicina", de Richard Gordon. O livro é divertido e engraçado, e conta uma outra história da arte de Hipócrates: a dos cirurgiões barbeiros que tinham o avental imundo (pois quanto mais sujo o avental, mais prestigioso o cirurgião), a dos péssimos médicos escritores (Richard Gordon acredita que é a sina da Medicina produzir bons terapeutas mas péssimos cronistas-liristas-contistas-poetas) entre outros. Meu capítulo preferido era dedicado aos médicos psicopatas...e é incrível como eles conseguiam ser maus.



Mas recentemente, lendo sobre a história da guerra da Bósnia, acredito que nem mesmo Richard Gordon conseguiria fazer humor com o tópico. Porque no final (para minha surpresa), a mente por trás de tudo era a de um Psiquiatra.

Radovan Karadžić





Radovan Karadžić nasceu em Petnjica em Montenegro, na antiga Iugoslávia. Em 1960 Karadžić mudou-se para Sarajevo para seguir seus estudos em psiquiatria na Escola Universitária de Medicina de Sarajevo. Ele estudou transtornos neuróticos e depressão no Hospital Næstved na Dinamarca em 1970 e passou um ano em 1974 na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, para prosseguir com seus estudos.

Após retornar à Iugoslávia, ele trabalhou no Hospital do Kosovo e se tornou poeta, caindo sobre a influência do escritor  Dobrica Ćosić que o encorajou a seguir carreira política.

O julgamento de Karadžić deveria começar hoje (mas foi cancelado de última hora) e ele deverá responder por numerosos crimes de guerra cometidos contra não-Sérvios em seu papel como Comandante Supreno das forças armadas Bósnias e Sérvias e como Presidente do Conselho de Segurança Nacional da República Sérvia.

Karadžić é acusado de ser a autoridade responsável pela morte de mais de 7500 mulçumanos e sob suas ordens as forças sérvias iniciaram o Cerco a Sarajevo e realizaram diversos massacres por toda Bósnia. Dezenas de milhares de não-sérvios foram assassinados, centenas de milhares foram expulsos de suas casas e milhares foram aprisionados em campos de concentração (A beira do século 21!!).

Após notar que seria preso, Karadžić fugiu e ficou 10 anos desaparecido, se tornando uma espécie de herói para o povo Sérvio. Enquanto esteve foragido, Karadžić deu palestras para centenas de pessoas (que não o reconheceram) sobre medicina alternativa e até mesmo tinha seu próprio site na internet, no qual oferecia assistência no tratamento de problemas e transtornos sexuais utilizando Energia Quantum Humana. Ele se dizia um dos mais proeminentes experts no campo da medicina alternativa, bioenergia e dieta macrobiótica.


Radovan Karadžić em Janeiro de 2008, em uma conferência médica em Belgrado, se passando por Dr. Dragan David Dabić.

Enquanto na história da medicina, nós tivemos açogueiros que evoluíram durante a Idade Média para médicos, em pleno século 20 Radovan Karadžić é um médico que virou açogueiro.

Para saber mais visite:

Radovan Karadžić na Wikipedia (em Inglês)

A Assustadora História da Medicina para comprar:
Buscapé
Livraria Sapiens
Ediouro

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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Transtornos borderline e anti-social na midia - II

Continuacao da reportagem da revista Isto E, volume 1800 de 7/4/2004 que pode ser acessado aqui!




OS TRANSTORNOS NAS TELAS DOS CINEMAS





Um dos mais renomados pesquisadores do País na área da psiquiatria e da cultura, o psiquiatra e analista José Paulo Fiks falou dos seguintes filmes a ISTOÉ






CIDADE DE DEUS



• O filme Cidade de Deus avisa logo no início que era para aquele local que iam os rejeitados sociais do Rio de Janeiro. Esses rejeitados encontram o seu espaço na favela e entre a droga. O filme mostra como o personagem Zé Pequeno, com a sua psicopatia, encontra o seu espaço na hierarquia do mundo do tráfico: é a psicopatia como fator de ascensão na hierarquia da favela










INSTINTO SELVAGEM



• É um encontro de transtornos de personalidade com os personagens Catherine Tramell (Sharon Stone) e Nick Curran (Michael Douglas). Há de tudo: corrupção da polícia, justiça com as próprias mãos, sexo de risco, lesbianismo, sadomasoquismo, falta de ética nas relações profissionais. Não se sabe ao final quem é a assassina, mas essa era a intenção do diretor (Paul Verhoeven). Ainda que seja a Catherine Tramell, ela é uma personagem borderline porque fica claro que tem sentimentos e sofrimentos








OS ÚLTIMOS PASSOS DE UM HOMEM



• O personagem Matthew Poncelet (Sean Penn) é um psicopata. Ele fica o tempo todo se relacionando cinicamente com a freira voluntária, chamada Helen Prejean (Susan Sarandon). É cínico e não demonstra sentimento de culpa. Pouco antes de ser executado, aí sim é que Matthew entra em contato com seus sentimentos. Não é que ele tenha nesse momento deixado de ser um psicopata. É um psicopata que se humanizou








ATRAÇÃO FATAL



• A sedutora Alex Forrest (Glenn Close) é uma borderline. Ela tem sentimentos constantes de abandono, se corta e tenta suicídio. Tem arrependimentos e remorsos, ainda que seja invasiva. É importante lembrar que o diretor do filme (Adrian Lyne) fazia Alex se suicidar no final, mas nas sessões prévias, comuns nos EUA, os espectadores exigiram que ela fosse assassinada, para pagar por tudo o que tinha feito. O fato de o diretor tê-la feito suicida demonstra que a sua intenção era construir uma personagem borderline. Foi o público que exigiu a cena em que ela é morta porque tenta no final assassinar o personagem Dan Gallagher (Michael Douglas)






O SILÊNCIO DOS INOCENTES



A intenção do filme é mostrar o personagem Doutor Hannibal Lecter (Anthony Hopkins) como um anti-social, mas não como um psicopata, apesar de ele ser um canibal. Tanto é verdade que ele se afeiçoa e muito à agente do FBI Clarice Starling (Jodie Foster). O grande vilão, para o público, é o psiquiatra que cuidava dele e o mantinha com focinheira

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