A jupe culotte e o mini-vestido pink
Mesmo estando na Inglaterra, tenho acompanhado as notícias no Brasil sobre uma garota que foi vaiada e teve de ser escoltada ao deixar a faculdade por usar um vestido muito curto.
Longe de querer discutir a (im)propriedade da vestimenta escolhida pela referida moça para frequentar a faculdade ou entrar no vazio de discutir a atitude fascista (segundo a imprensa) dos estudantes versus a tentativa de se auto-promover da garota (segundo os estudantes da Uniban), lembrei-me de um caso semelhante ocorrido no Brasil. Estou mais acostumada a escrever sobre Psiquiatria e sei que este comentário não tem muito a ver com psiquiatria per se, mas o comportamento humano é do meu interesse e estive a deliberar sobre o acontecido.
Este artigo saiu da ressonância que o acontecido causou em minha memória, com um outro fato, este acontecido há um século atrás. Em 1911, foi lançada em Paris a Jupe Culotte ou saia calça, que revolucionou a vestimenta feminina. A jupe culotte era uma novidade pois ajustava-se ao corpo (ao contrário dos vestidos de saias largas usados até então), realçando as curvas femininas. Uma socialite carioca, quando o Rio de Janeiro ainda era capital federal, decidiu vestir a última moda em Paris e, certa de sua aparência e status social, caminhou pelas ruas.
Pois que esta senhora foi vaiada, agarrada pela gentalha e pelos nobres senhores, quase despida em público e quase linchada. A dita senhora só foi salva pois encontrou abrigo numa loja tradicional de tecidos na rua do Comendador (Nosso Século Nº 37- Feminismo- Jupe-culotte)
foto da senhora em questão, tirada em 1911, vestindo a jupe culotte, cercada por uma multidão
Ao escrever esta pequena anedota, lembrei-me de outra:
Em 1913, militantes do movimento sufragista inglês (votos para as mulheres) reuniram-se no Hyde Park, em Londres para uma grande manifestação. Entretanto, homens contrários à emancipação feminina descem correndo as colinas para interrompê-las. O pânico se instalou entre a multidão, que correu para salvar-se enquanto diversas mulheres foram passadas de mãos em mãos, praticamente despidas e humilhadas enquanto senhores de alta sociedade (gentlemen) gritavam e clamavam pela realização de atos indescritíveis contra tais mulheres.
Não quero traçar qualquer paralelo entre o movimento sufragista que lutou pelas liberdades civis das mulheres no começo do século ou o vestido curto da aluna da Uniban. Quero, entretanto, notar que nos três exemplos, as agressões às mulheres envolvem palavras de cunho sexual e ameaças à honra e à integridade física. Embora muito se tenha avançado em questões de divisão sexual na família e direitos trabalhistas, o corpo da mulher e sua honra continuam sendo assuntos públicos, que podem ser utilizados como munição para grupos enraivecidos.
Não condeno ou aprovo a atitude da aluna da Uniban, não estou aqui para julgá-la. Condeno sim a violência e o abuso promovidos por uma turba enraivecida e cega, clamando mais uma vez pelo sangue da “Maria Madalena”. Ninguém utilizou a via diplomática ou a razão, nenhum dos envolvidos.
Parece que, em pleno século 21 voltamos, num círculo completo, a comportamentos sociais de 1911.
Longe de querer discutir a (im)propriedade da vestimenta escolhida pela referida moça para frequentar a faculdade ou entrar no vazio de discutir a atitude fascista (segundo a imprensa) dos estudantes versus a tentativa de se auto-promover da garota (segundo os estudantes da Uniban), lembrei-me de um caso semelhante ocorrido no Brasil. Estou mais acostumada a escrever sobre Psiquiatria e sei que este comentário não tem muito a ver com psiquiatria per se, mas o comportamento humano é do meu interesse e estive a deliberar sobre o acontecido.
Este artigo saiu da ressonância que o acontecido causou em minha memória, com um outro fato, este acontecido há um século atrás. Em 1911, foi lançada em Paris a Jupe Culotte ou saia calça, que revolucionou a vestimenta feminina. A jupe culotte era uma novidade pois ajustava-se ao corpo (ao contrário dos vestidos de saias largas usados até então), realçando as curvas femininas. Uma socialite carioca, quando o Rio de Janeiro ainda era capital federal, decidiu vestir a última moda em Paris e, certa de sua aparência e status social, caminhou pelas ruas.
Pois que esta senhora foi vaiada, agarrada pela gentalha e pelos nobres senhores, quase despida em público e quase linchada. A dita senhora só foi salva pois encontrou abrigo numa loja tradicional de tecidos na rua do Comendador (Nosso Século Nº 37- Feminismo- Jupe-culotte)
foto da senhora em questão, tirada em 1911, vestindo a jupe culotte, cercada por uma multidão
Ao escrever esta pequena anedota, lembrei-me de outra:
Em 1913, militantes do movimento sufragista inglês (votos para as mulheres) reuniram-se no Hyde Park, em Londres para uma grande manifestação. Entretanto, homens contrários à emancipação feminina descem correndo as colinas para interrompê-las. O pânico se instalou entre a multidão, que correu para salvar-se enquanto diversas mulheres foram passadas de mãos em mãos, praticamente despidas e humilhadas enquanto senhores de alta sociedade (gentlemen) gritavam e clamavam pela realização de atos indescritíveis contra tais mulheres.
Não quero traçar qualquer paralelo entre o movimento sufragista que lutou pelas liberdades civis das mulheres no começo do século ou o vestido curto da aluna da Uniban. Quero, entretanto, notar que nos três exemplos, as agressões às mulheres envolvem palavras de cunho sexual e ameaças à honra e à integridade física. Embora muito se tenha avançado em questões de divisão sexual na família e direitos trabalhistas, o corpo da mulher e sua honra continuam sendo assuntos públicos, que podem ser utilizados como munição para grupos enraivecidos.
Não condeno ou aprovo a atitude da aluna da Uniban, não estou aqui para julgá-la. Condeno sim a violência e o abuso promovidos por uma turba enraivecida e cega, clamando mais uma vez pelo sangue da “Maria Madalena”. Ninguém utilizou a via diplomática ou a razão, nenhum dos envolvidos.
Parece que, em pleno século 21 voltamos, num círculo completo, a comportamentos sociais de 1911.
Marcadores: outros, psiquiatria transcultural e antropologia
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