Dr. House e a psiquiatria
ATENÇÃO: ESTE POST CONTÉM INFORMAÇÕES SOBRE A NOVA TEMPORADA DE HOUSE MD. SE NÃO QUERES SABER ANTES DA HORA, NÃO LEIA!
Geralmente a psiquiatria é principalmente retratada em filmes de terror em Hollywood. Nada como um bom manicômio psiquiátrico para assustar a platéia reforçando estereótipos sobre tratamentos controversos (como a Eletroconvulsoterapia ou ECT) ou estigmas sobre as doenças mentais (o psicótico violento). Para entender melhor, leia esta lista da wikipedia sobre psiquiatras na ficção.
Devido ao fato de a psiquiatria ser tão assustadora para os escritores de ficção, fiquei surpreendida com a leveza com a qual a doença mental e seu tratamento foram retratados nas últimas duas temporadas da série americana Dr. House (House M.D.).
Desde a última temporada, que terminou há 3-4 meses, a série mudou um pouco seu foco dos enigmas diagnósticos para os problemas interpessoais. Nos últimos episódios da quinta temporada, acompanhamos (sem saber) a crise psicótica do Dr. House, da perspectiva do doente. Como num verdadeiro surto, nós telespectadores também não sabemos o que é realidade ou fantasia e somente no último episódio (Both Sides Now ou "Agora os dois lados") é que vemos a gravidade do quadro do famoso médico. O episódio choca pelo inesperado ao sermos confrontados com a realidade do que se passou enquanto achávamos que a realidade era outra. O choque e surpresa são intensos e muitos internautas postaram em diversos fóruns o medo e a adrenalina que sentiram nos momentos finais da temporada.
A nova temporada iniciou-se em 21 de Setembro deste ano, com o famoso e difícil dr. House internado em um hospital psiquiátrico e passando por sessões de grupoterapia (e, como não podia deixar de ser, assumindo o papel do paciente desafiador-opositor, tentanto roubar a liderança do terapeuta). Quase todos os rótulos em psiquiatria estão lá: o psicótico, o anti-social (no caso, o próprio House), o anorexico, o depressivo, o bipolar em fase maníaca. Alguns rótulos anti-psiquiatria estão presentes também (mesmo que levemente em pano de funto), como o psiquiatra sádico, que tenta arruinar os delírios de grandeza de um paciente na frente do grupo, para humiliá-lo.
Mais do que lidar com os já tão conhecidos rótulos, a nova temporada prima pela delicadeza com que aborda o assunto. Em nenhuma vez o psiquiatra se torna caricato ou o doente se torna o são, tão somente preso alí por ser a única voz de liberdade. Chega deste tipo de foco! A equipa psiquiátrica tem competência e está ali por verdadeiramente se interessar pela melhoria da condição de seus pacientes.
Nos demais episódios ( o último foi ao ar em 19 de Outubro) o foco retorna aos enigmas diagnósticos. Mas a difícil tarefa de recuperar de uma psicose continua no pano de fundo de cada enigma solucionado. O medo (muitas vezes palpável) de perder novamente a noção de realidade permeia todas as decisões do médico anti-social.
Bom, se você leu este post até o final é porque deve acompanhar a série. Caso você nunca tenha visto House MD, sugiro que vá até sua videolocadora e alugue ou compre a caixa com as temporadas completas e divirta-se assistindo a personagem mais narcisista e anti-social (altamente funcionante) da ficção no momento.
Geralmente a psiquiatria é principalmente retratada em filmes de terror em Hollywood. Nada como um bom manicômio psiquiátrico para assustar a platéia reforçando estereótipos sobre tratamentos controversos (como a Eletroconvulsoterapia ou ECT) ou estigmas sobre as doenças mentais (o psicótico violento). Para entender melhor, leia esta lista da wikipedia sobre psiquiatras na ficção.
Devido ao fato de a psiquiatria ser tão assustadora para os escritores de ficção, fiquei surpreendida com a leveza com a qual a doença mental e seu tratamento foram retratados nas últimas duas temporadas da série americana Dr. House (House M.D.).
Desde a última temporada, que terminou há 3-4 meses, a série mudou um pouco seu foco dos enigmas diagnósticos para os problemas interpessoais. Nos últimos episódios da quinta temporada, acompanhamos (sem saber) a crise psicótica do Dr. House, da perspectiva do doente. Como num verdadeiro surto, nós telespectadores também não sabemos o que é realidade ou fantasia e somente no último episódio (Both Sides Now ou "Agora os dois lados") é que vemos a gravidade do quadro do famoso médico. O episódio choca pelo inesperado ao sermos confrontados com a realidade do que se passou enquanto achávamos que a realidade era outra. O choque e surpresa são intensos e muitos internautas postaram em diversos fóruns o medo e a adrenalina que sentiram nos momentos finais da temporada.
A nova temporada iniciou-se em 21 de Setembro deste ano, com o famoso e difícil dr. House internado em um hospital psiquiátrico e passando por sessões de grupoterapia (e, como não podia deixar de ser, assumindo o papel do paciente desafiador-opositor, tentanto roubar a liderança do terapeuta). Quase todos os rótulos em psiquiatria estão lá: o psicótico, o anti-social (no caso, o próprio House), o anorexico, o depressivo, o bipolar em fase maníaca. Alguns rótulos anti-psiquiatria estão presentes também (mesmo que levemente em pano de funto), como o psiquiatra sádico, que tenta arruinar os delírios de grandeza de um paciente na frente do grupo, para humiliá-lo.
Mais do que lidar com os já tão conhecidos rótulos, a nova temporada prima pela delicadeza com que aborda o assunto. Em nenhuma vez o psiquiatra se torna caricato ou o doente se torna o são, tão somente preso alí por ser a única voz de liberdade. Chega deste tipo de foco! A equipa psiquiátrica tem competência e está ali por verdadeiramente se interessar pela melhoria da condição de seus pacientes.
Nos demais episódios ( o último foi ao ar em 19 de Outubro) o foco retorna aos enigmas diagnósticos. Mas a difícil tarefa de recuperar de uma psicose continua no pano de fundo de cada enigma solucionado. O medo (muitas vezes palpável) de perder novamente a noção de realidade permeia todas as decisões do médico anti-social.
Bom, se você leu este post até o final é porque deve acompanhar a série. Caso você nunca tenha visto House MD, sugiro que vá até sua videolocadora e alugue ou compre a caixa com as temporadas completas e divirta-se assistindo a personagem mais narcisista e anti-social (altamente funcionante) da ficção no momento.
Marcadores: esquizofrenia e psicose, psiquiatria na midia, psiquiatria no cinema
7 Comentários:
Dra. Vanessa, primeiramente gostaria de manifestar o meu contentamento com o seu texto. Faço tratamento psiquiatrico há dois anos (depressão, ou quem sabe outra doença não diagnosticada) e sou fã da série comentada. Mas devo confessar: me identifico, em muitos pontos, com o anti-social Dr. House.
Rodrigo Boucault, advogado, 32 anos.
Obrigada Rodrigo. Acho que todos nos, vez ou outra, nos identificamos com alguns aspectos dele. O Dr. House 'e uma personagem muito bem construida e empolgante. A ultima temporada continua tao boa quanto as primeiras.
Com os melhores cumprimentos.
Realmente, estou ansioso para ver a 6ª temporada. A propósito, venho pesquisando sobre o meu problema, e tenho lido bastante a respeito da melancolia como patologia diferente da depressão. Seria o Dr House um melancólico???
Grato por ter respondido,
Caro Rodrigo.
O Dr. House, segundo a descricao do programa tem aspectos anti-sociais (psicopatia), embora eu ache que esta nao 'e uma boa definicao pois ele realmente sente culpa e empatiza genuinamente com muitos de seus pacientes. Hollywood tem muita dificuldade em transportar para as telas o antisocial (vide o Talentoso Mr. Ripley, que no livro 'e muito mau e no filme "sofre" de pesadelos (culpa)).
De qualquer forma, observa-se sim tracos melancolicos na personagem e diversas vezes tentaram fazer com que ele tomasse antidepressivos (autodestruicao, isolamento social, humor estoico ou apatico sao tracos depressivos). Quanto a sua pergunta sobre a diferenca entre melancolia e depressao, acho que merece um post proprio pois a definicao 'e muito longa e vou prepara-lo durante o fim de semana.
Com os melhores cumprimentos
Dra. Vanessa como vai?
Meu médico, acrescentou ao meu tratamento com cloridrato de venlafaxina, um remedio chamado Donarem. Contudo, não entendi bem a razão. Seria para potencializar os efeitos do cloridrato de venlafaxina? Agradeço muito a sua atençao. Bons trabalhos.
Ola House.
Bom primeiramente devo lhe dizer que 'e muito dificil debater prescricoes de colegas ja que nunca o avaliei e nao sei qual seu quadro. E mesmo assim 'e um bocado antietico dizer que fulano deveria ter feito isso ou aquilo. Assim, vou dar uma explicacao geral sobre o que 'e o Donarem e informacoes mais detalhadas s'o mesmo com seu medico, ok?
A trazodona (nome generico do seu medicamento) 'e um antidepressivo tambem. Ela 'e comumente prescrita para potencializar a acao de um medicamento antidepressivo (geralmente quando este ja esta na dose maxima ou no maximo que nos sentimos seguros em utilizar) que ainda nao conseguiu acabar com os sintomas residuais da depressao. Alem disso, a trazodona 'e bastante sedativa e muitas vezes a utilizamos para ajudar pacientes a dormir ou relaxar, geralmente numa dose mais baixa do que em uso terapeutico para depressao.
Existe ainda uma outra indicacao do medicamento: devido a seus efeitos simpatoliticos, que reduzem o desempenho sexual (demora mais tempo a atingir o orgasmo), ela tambem 'e prescrita as vezes para tratamento de ejaculacao precoce. Em fase de estudos estao as indicacoes para dor neuropatica, abstinencia alcoolica e transtorno obsessivo-compulsivo.
Assim, s'o mesmo o seu medico pode esclarecer o motivo da associacao.
Com os melhores cumprimentos
Dra, quanto a questão ética, não poderia esperar outra postura de uma profissional com o seu perfil.
A resposta esclareceu completamente as minhas dúvidas. Se é que não é, deveria pensar em dar aulas também!
Grato pela atenção
House!
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial