terça-feira, 31 de agosto de 2010

As Neuroses (parte 2) - Histeria

Este post continua a história e psicopatologia das neuroses, iniciada aqui.

Formas clássicas

Histeria de conversão - substituição de um conflito por expressividade somática
Histeria de dissociação

Crianças somatizam normalmente e com frequência, também convertem mas raramente dissociam.

Histeria (segundo conceitos clássicos) utiliza o mecanismo de defesa recalcamento. As fobias utilizam evitamento (antigamente chamada de Histeria de angústia) e deslocamento.

No transtorno obsessivo compulsivo (TOC) o componente ansioso é menos marcante. Nestes pacientes nota-se um afeto depressivo enquanto que o afeto básico da histeria e das fobias é a angústia.

Existem dois afetos básicos: ansiedade/angústia e depressivo. Estes afetos são normais nos indivíduos. Todos temos mecanismos destes dois afetos. O primeiro é desencadeato por estresse e o segundo por perdas significativas.

O termo histeria designa:
  • doença (categoria das neuroses)
  • personalidade: O indivíduo histérico tem insight e juízo crítico preservados. Os sintomas são egodistônicos. Este grupo de sintomas preserva o insight, enquanto que os egossintônicos prejudicam o juízo ( o paciente aceita como dele os delírios).
    Nos borderline e antissocial predomina o mecanismo "acting out": predomínio da periculosidade e ausência de culpa. Nos fóbicos o que predomina é a inibição. A personalidade que mais facilmente passa ao ato é a histérica (explosões histéricas: gritar, falar alto, etc.)
  • estrutura (pertencente ao registro da neurose) Estrutura histérica é algo além da personalidade, com maior tendência à doença.
  • discurso (ex, maiêutica socrática) - há uma dissociação entre o conteúde e a forma de falar
Abordagem histórica

Hipócrates
histerus (útero)
Teoria etiológica (migração do útero através do corpo) com noções de insatisfação sexual e de crise

Idade média
histéricas apelidadas de bruxas ou imbuídas de fervor religioso

Século XVI
surgem concepções "orgânicas" da histeria: "doença do espírito", dos "nervos" ou afecção "vaporosa"

Século XIX
estatuto de doença com reconhecimento de fenômenos psicológicos
Briquet (1859) defende a sede da doença no cérebro, contrapondo-se a Pinel (1813) que defendia o útero como ponto de partida da doença.
Charcot (1825-1893) atribui à histeria o estatuto de doença. Babinski nota que o quadro pode ser produzido por sugestão.
Janet, o "pai da psicologia clínica", a partir de 1893 considera a histeria como doença
Freud (1893) desenvolve a ideia de causalidade inconsciente e sexual dos sintomas histéricos.

Semiologia

A definição de histeria nunca foi dada e nunca o sera. Os sintomas não são suficientemente constantes nem suficientemente semelhantes na forma, suficientemente iguais em termos de duração e de intensidade para qualquer um tipo, ainda que descritivo, possa compreender todas as variedades. (Lasigue)

A histeria é um quadro de semiologia múltipla, variável num mesmo indivíduo e os sintomas são funcionais e reversíveis.

Tipos de apresentação
  • alteração da motricidade e do tônus
  • alterações sensitivas
  • alterações neurovegetativas
Perturbações da  motricidade e do tônus
Crise clássica ou "grande ataque" em 5 fases: aura, epileptóide, contorções, transe e terminal.
Movimentos anormais (tremores paroxísticos, movimentos de expressão coréica)
Soluços, tosses espasmódicas, "nó na garganta"
pseudoparalisias - "bélle indifference"
contraturas
astenia ou fraqueza muscular

Perturbações sensitivas
anestesias, hipoestesias, hiperestesias que não respeitam sistematizações neurológicas (em luva ou meia)
alterações da visão

Perturbações neurovegetativas
espasmos
alterações em todos os aparelhos: gravidez histérica, palpitações, vômitos, perturbações tróficas (estigmas)

Sintomatologia psíquica (dissociação - F44 da CID10)
repentina e transitórica
amnésia
fuga psicogênica
estados crepusculares
sonambulismo
personalidade múltipla
despersonalização
Os sintomas têm um caráter espetacular e são apresentados de forma dramática (pode existir bélle indifférence). O sintoma é sensível à sugestão (presença de espectadores reforça ou modifica o sintoma - plasticidade do indivíduo histérico e labilidade do sintoma). O sintoma está inscrito numa relação, podendo assumir um valor de sedução, manipulação ou refúgio.

Foto: http://jessicadoyle.com/2006/06/08/female-hysteria-aids-that-every-woman-appreciates/
http://www.counselor.org/dissociative-disorders.html

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