segunda-feira, 12 de abril de 2010

O transtorno bipolar: uma introdução rápida

O transtorno bipolar compartilha sintomas com a depressão major, mas na verdade é definido por episódios de mania ou hipomania.



A depressão pode incluir sintomas afetivos como tristeza pervasiva (humor depressivo que não melhora), falta de prazer e interesse em atividades antes prazeirosas (anedonia/apatia) e irritabilidade (mais comum em crianças e adolescentes). Os sintomas cognitivos do quadro depressivo incluem baixa auto-estima e concentração, indecisão, sentimentos de culpa e pensamentos suicidas, além de sintomas físicos como retardo psicomotor ou agitação, insônia ou hipersonia, e reduções no apetite e energia.
É importante lembrar que nem tudo que tem listras é zebra e outras doenças e situações de vida podem apresentar-se com os sintomas descritos acima, por isso apenas um profissional da área pode realmente definir um diagnóstico de pressão.

De certa forma, a mania é uma imagem refletida da depressão e os sintomas podem incluir humor eufórico e expansivo ou irritável, sintomas cognitivos como aumento da auto-estima, distraibilidade e fuga de pensamentos (quando os pensamentos ficam tão rápidos que o paciente não consegue manter controle sobre eles, mudando de um assunto para o outro), e sintomas comportamentais como aumento da atividade psicomotora e impulsividade. Um sintoma muito distintivo (mas nem sempre presente) é uma necessidade reduzida de horas de sono: o paciente que antes dormia 8 horas dorme apenas 2 horas por noite, por exemplo, e acorda descansado. Embora o paciente tenha muita energia, de forma geral há uma desorganização do comportamento (justamente pelo excesso de atividade) e embora o paciente comece muitos projetos, dificilmente os termina. Da mesma forma que na depressão major, outras doenças, e até mesmo certos medicamentos (como corticóides, anorexígenos, anfetaminas) podem causar sintomas maníacos (sintomas típicos da mania) e o quadro não pode ser diagnosticado como transtorno bipolar.

Já a hipomania não é tão severa quanto a mania e geralmente é caracterizada como "uma mania" leve a moderada". Inclusive encontramos pacientes muitas vezes com melhora da função (término de projetos iniciados) ao invés de deterioração.

Prevalência

O transtorno bipolar (em uma abordagem bastante ampla e vaga, incluindo todos os subdiagnósticos) tem uma prevalência na comunidade de 4%. Ou seja, a cada 100 pessoas, 4 podem apresentar o transtorno. Em geral 1% da população apresenta o transtorno bipolar tipo I (vide abaixo), 1% apresentam o tipo II, e 2% apresentam ciclotimia ou transtorno bipolar não especificado (Merikangas et al, 2007).

Não há qualquer evidência de alteração da prevalência do transtorno em raças ou etnias:brancos, negros, índios, asiáticos, etc tem a mesma prevalência (Merikangas et al, 2007). Sexo também não faz qualquer diferença na prevalência, mas aparentemente as mulheres tem maior risco para serem cicladoras rápidas (vide abaixo) e a apresentar sintomas mistos (idem) do que os homens (Tondo e Baldessarini, 1998). O pico de início dos sintomas para todos os transtornos bipolares varia do final da adolescência até o adulto jovem e mais de dois terços dos pacientes apresentam os primeiros sintomas antes dos 18 anos de idade (Weissman et al, 1996).

Os subtipos do transtorno bipolar

Transtorno bipolar tipo I


O tipo I diferencia-se dos outros tipos pela presença de pelo menos um episódio maníaco ou episódio misto. No episódio misto, estão presentes tanto os sintomas de um episódio maníaco e de um episódio depressivo ao mesmo tempo (ocorrem no mesmo dia). Embora episódios depressivos não sejam necessários para o diagnóstico, eles são vistos na maioria dos pacientes. Ou seja: apenas a fase maníaca (sintomas de euforia) é suficiente para se caracterizar como bipolar tipo I. Como dito acima, o transtorno ocorre de forma igual nos dois sexos mas nas mulheres o primeiro episódio tende a ser depressivo e nos homens, maníaco. Em geral 90% dos pacientes com bipolar tipo I terão episódios recorrentes, com as fases de remissão tornando-se cada vez menores entre os episódios (quanto maior a idade e maior o número de episódios na vida, maior tendência a ter mais episódios com encurtamento da fase de remissão) (APA, 2000). Em geral, uso de substâncias (drogas), transtornos de ansiedade e em menor grau, transtornos alimentares e déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) podem ser comórbidos com o transtorno bipolar tipo I (McIntyre et al., 2004)


Transtonor bipolar tipo II


O tipo II é caracterizado por um ou mais episódios depressivos e pelo menos um episódio hipomaníaco. O transtorno tipo II parece ser mais comum em mulheres e estas parecem apresentar mais episódios depressivos ou hipomania disfórica (humor irritável) enquanto que os homens apresentam mais episódios hipomaníacos "puros" (euforia leve).
Quando se olha o gráfico, uma pessoa pode pensar que o bipolar tipo II é mais leve já que a hipomania não é tão grave quanto a mania e psicose é rara neste subtipo (embora os pacientes possam apresentar depressão psicótica). Entretanto, o tipo II não deve ser subestimado já que o peso do episódio depressivo na vida do paciente parece ser mais substancial que no bipolar tipo I. As taxas de ideação e tentativa de suicídio são altas nos dois tipos e no tipo II a depressão parece durar mais e ser mais clinicamente significativa do que no tipo I.
Pacientes cicladores rápidos (que apresentam pelo menos 4 episódios de alteração do humor por ano, geralmente refratários a tratamento) são mais comuns no tipo II. Comorbidades comuns incluem uso de substâncias, ansiedade e em menor grau, transtornos alimentares, TDAH, transtorno disfórico pré-menstrual e personalidade borderline.
Transtorno ciclotímico

O transtorno ciclotímico é caracterizado por um padrão recorrente de episódios hipomaníacos e episódios depressivos leves a moderados (APA, 2000). Os sintomas são mais leves (não preenchendo critérios diagnósticos para mania ou depressão major) mas o distúrbio do humor é crônico e os pacientes nunca estão livres de sintomas por mais do que 2 meses em um período de dois anos. Comparado aos bipolar I e II, a ciclotimia tem maior frequência, mas menor amplitude nas alterações do humor. Embora não haja diferenças entre os sexos, mais mulheres procuram ajuda do que homens e em geral os pacientes não vão ao médico com queixas de humor, mas por quadros comórbidos como transtornos de ansiedade, uso de substâncias e transtornos de personalidade. Em geral, 15 a 50% dos pacientes diagnosticados com transtorno ciclotímico progridem para bipolar tipo I ou II (mais comumente).

Transtorno bipolar não especificado

Esta é uma categoria residual, na qual se diagnosticam pacientes com aspectos bipolares que não preenchem critérios específicos para os tipos acima descritos. Por exemplo, um paciente que tem diversos episódios hipomaníacos mas nenhum depressivo, episódios que duram pouco tempo, etc.

Este post continua aqui

Fotos: http://i.ehow.com/images/a04/q4/0k/bipolar-disorder-genetic-800X800.jpg
Gráficos: meus mesmo

Referências
ResearchBlogging.org
American Psychiatric Association (APA). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fourth Edition, Text Revision. Washington, DC: American Psychiatric Association; 2000

Merikangas, K., Akiskal, H., Angst, J., Greenberg, P., Hirschfeld, R., Petukhova, M., & Kessler, R. (2007). Lifetime and 12-Month Prevalence of Bipolar Spectrum Disorder in the National Comorbidity Survey Replication Archives of General Psychiatry, 64 (5), 543-552 DOI: 10.1001/archpsyc.64.5.543

Tondo L, Baldessarini RJ. Rapid cycling in women and men with bipolar manic-depressive disorders. Am J Psychiatry. 1998;155(10):1434–1436. Texto completo disponível aqui.

Weissman, M. (1996). Cross-national epidemiology of major depression and bipolar disorder JAMA: The Journal of the American Medical Association, 276 (4), 293-299 DOI: 10.1001/jama.276.4.293

McIntyre, R., Konarski, J., & Yatham, L. (2004). Comorbidity in bipolar disorder: a framework for rational treatment selection Human Psychopharmacology: Clinical and Experimental, 19 (6), 369-386 DOI: 10.1002/hup.612

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1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Hello é a 1ª vez que encontrei o teu blog e adorei imenso!Espectacular Projecto!
Até à próxima

26 de maio de 2011 às 02:28  

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