sábado, 23 de janeiro de 2010

Receita para criar psicopatas

A população do Reino Unido está chocada com um caso que esteve em julgamento neste mês e que foi sentenciado ontem.

O crime ocorreu no segundo semestre do ano passado e os detalhes são extremamente perturbadores:

Dois irmãos, de 10 e 11 anos, torturaram, espancaram e humiliaram dois outros meninos da mesma idade. Os atos de selvageria e depravação perpretados por estas crianças extrapolaram os limites da compreensão. O crime ocorreu em Edlington, sul de Yorkshire (Inglaterra). Durante 90 minutos dois meninos foram espancados com galhos e pedras, cortados com arame farmado, receberam socos, pontapés, tiveram suas partes íntimas pisoteadas, entre outros. Durante a sessão de tortura, um dos irmãos perguntou a suas vítimas : "Você já está morrendo?"

As duas vítimas estavam andando de bicicleta quando foram vistos pelos irmãos, que praticaram o ataque como se fossem "um time". Em uma rotina praticada anteriormente com uma outra criança (que também ficou traumatizada), eles enganaram os garotos, que conheciam da vizinhaça, ao dizer que queriam mostrar-lhes uma raposa morta em uma ravina próxima ao bairro.

Ao chegarem à ravina, os garotos foram avisados de que seriam mortos e também ouviram ameaças constantes às suas famílias. O menino mais velho foi estrangulado diversas vezes. Ambos foram obrigados a comer espinhos e barro e depois tiveram seus pescoços cortados com cacos de vidro de garrafas de cerveja. A promotoria demonstrou que o irmão mais velho focou-se em torturar o menino de 11 anos e o mais novo o de 9 anos.

O irmão mais novo "pulou" no rosto de sua vítima e os dois tiveram seus genitais pisoteados. Tijolos e pedras foram jogados em suas cabeças. Alguns, eram pesados demais para que crianças os atirassem sozinhas e foram soltos na cabeça das vítimas ao invés de arremessados (o mais pesado: 12 quilos). Um laço de metal foi utilizado para estrangular o menino mais velho e arame farpado para cortar a língua do mais novo, que teve seu braço machucado com um pedaço de pau e um cigarro apagado na ferida.

Durante os 90 minutos de tortura, os meninos de 9 e 11 anos foram forçados a:
  • tentar matar o outro
  • despirem-se e forçados a realizar atos sexuais
  • tiveram os cílios e orelhas queimados
  • estrangulados com um varal
  • tiveram pias e objetos pesados "arremessados" contra suas cabeças
  • forçados a comer espinhos e sujeira
  • foram colocados sob um lençol de plástico ao qual foi ateado fogo.
Um dos irmãos lembrou-se de que era hora de encontrarem-se com seu pai, ao qual o outro respondeu: "Deixe-me só matá-los para que não contem nada". Ao final, as vítimas só sobreviveram porque os irmãos estavam com dores nos braços após a sessão de tortura e resolveram ir embora.

Quando os irmãos saíram, a criança mais nova chamou o de 11 anos para fugirem ao qual ele respondeu "Vai você. Eu não consigo me mexer ou ver. Eu vou morrer aqui.". O menino de 9 anos então saiu da ravina e perambulou pelas ruas de seu bairro, coberto de sangue. Um vizinho riu-se de ver como ele estava coberto de "tinta vermelha", mas ao aproximar-se, viu a extensão dos ferimentos. O menino apenas disse: "Eles nos bateram com galhos e pedras" e seus olhos começaram a rolar quando entrou em choque. Os vizinhos organizaram-se e encontraram o menino mais velho na ravina. Sua temperatura corporal era 28.5C (sinal de grave hipotermia). Ambos sobreviveram após semanas em tratamento intensivo no hospital da localidade, mas com marcas indeléveis para o resto de suas vidas.


Receita para criar psicopatas em casa

Durante a investigação do caso, foi descoberto o estilo de vida da família dos dois irmãos. A família já estava no radar dos serviços sociais há 14 anos: Pai, mãe e sete filhos. Não havia regras, tabus ou restriçoes. Aos 9 anos, ambos fumavam maconha (cannabis) dentro de casa e bebiam cerveja e cidra.

As duas crianças cresceram assistindo filmes de terror sadísticos e dvds pornográficos, de onde provavelmente tiraram inspiração para a sessão de tortura.

Não havia ninguém para impedir que este fato acontecesse. O pai passava seu tempo a plantar maconha no quintal, sempre com uma lata de cerveja nas mãos. A mãe, consumidora compulsiva de maconha, quando confrontada por policiais sobre o que seus filhos fizeram, respondeu "eu não tenho nada a ver com eles".
O pai é um alcoólico violento. Ele passava o tempo intoxicado, a abusar fisicamente dos filhos e da esposa, chegando a cortá-la com uma faca na frente dos meninos.

A família era conhecida na vizinhança: a casa deles era a única com um carro abandonado e uma geladeira (frigorífico) aos pedaços no jardim da frente. A placa da frente da casa dizia, numa tradução minha: "Cuidado, criança brava" (Beware of the Kids). A familia parecia gostar de sua notoriedade e mesmo serviços sociais tinham "medo" das visitas.

Os pais viviam de benefícios sociais do governo (um tipo de "bolsa-família") que era gasto quase que completamente em maconha e álcool. Gradualmente eles passaram a perder o controle sobre os meninos. A mãe havia dito a uma vizinha que costumava colocar maconha no chá deles, "para fazê-los dormir para que eu tenha sossego". Como o dinheiro para alimentá-los e vestí-los era gasto em drogas, os meninos eram incentivados a procurar comida e roupas no lixão dos supermercados.
Quando não perambulavam pelas ruas, os meninos passavam o tempo assistindo filmes ultraviolentos e pornográficos (os preferidos eram SAW e "Brinquedo Assassino"), no que a corte definiu ontem como "um estilo familiar tóxico" e uma "rotina de agressão, violência e caos".

Arrepio-me de imaginar a cena familiar: pai, mãe e os dois filhos mais novos assistindo filmes violentos enquanto fumavam maconha, rindo-se enquanto sangue escorria em quase todas as cenas. E cedo, de fato, a ficção tornou-se realidade.

Quando questionados sobre o porquê de terem torturado as outras duas crianças, o irmão mais velho respondeu "Porque não tinha nada para fazer". O horror foi capturado pela câmera de um celular (telemóvel), no qual se pode ouvir o mais velho dizendo "que imagem ótima". Tudo se passou sem qualquer entendimento do que era certo ou errado, sem medo de qualquer culpa ou punição. Durante os procedimentos do tribunal, os meninos mostraram sentimento apenas quando sua mãe disse que era abusada fisicamente pelo marido.

Quando andavam pelas ruas de seu bairro, eles costumavam carregar vidros quebrados que utilizavam para ameaçar qualquer um que os "denunciasse". Costumavam empurrar deliberadamente outras crianças na frente dos carros em movimento para ver o impacto. Gostavam de colocar fogo no cabelo de meninas e de empurrar senhoras idosas de suas bicicletas. Eles também já haviam matado um grupo de patinhos em um parque.

Os pais se importavam muito pouco e nunca os puniram ou reprimiram. Um psiquiatra infantil que investigou o caso disse que os dois apresentam grande potencial para desenvolver o transtorno de personalidade antissocial.

Todos são vítimas de certa forma. Para os dois irmãos provavelmente já é muito tarde e o prognóstico, mesmo agora que foram retirados da família e institucionalizados, já é quase certo. As vítimas, que recuperaram-se brilhantemente da tortura e mostraram-se bastante resilientes no que tange ao sofrimento físico, tem sofrido de pesadelos, medo e evitam sair da rua. Provavelmente precisarão de auxílio psicológico e psiquiátrico (transtorno de estresse pós-traumático) pelo resto da vida. A amizade entre os dois está bastante estremecida. O pai do menino de 9 anos disse que ele sente muita culpa de ter abandonado o amigo na ravina para buscar ajuda. A família do mais velho, entretanto, acredita que ele seja um herói por ter buscado ajuda.

Critérios para o transtorno de personalidade antissocial:

Critérios Diagnósticos pelo DSM-IV-TR (Código: 301.7)


A. Um padrão pervasivo de desrespeito e violação aos direitos dos outros, que ocorre desde os 15 anos, como indicado por pelo menos três dos seguintes critérios:

-Fracasso em conformar-se às normas sociais com relação a comportamentos legais, indicado pela execução repetida de atos que constituem motivo de detenção;

-Impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro;

-Irritabilidade e agressividade, indicadas por repetidas lutas corporais ou agressões físicas;

-Desrespeito irresponsável pela segurança própria ou alheia;

-Irresponsabilidade consistente, indicada por um repetido fracasso em manter um comportamento laboral consistente ou honrar obrigações financeiras;

-Ausência de remorso, indicada por indiferença ou racionalização por ter ferido, maltratado ou roubado outra pessoa.

B. O indivíduo tem no mínimo 18 anos de idade.

C. Existem evidências de Transtorno de Conduta com início antes dos 15 anos de idade.

D. A ocorrência do comportamento antissocial não se dá exclusivamente durante o curso de Esquizofrenia ou Episódio Maníaco

Transtorno de estresse pós-traumático

A existência de um evento traumático claramente reconhecível como um atentado à integridade física, própria ou alheia, que haja sido experimentado direta ou indiretamente pela pessoa afetada e que lhe provoque temor, angústia ou horror.


A reexperimentação repetida do evento, ou seja:

Pensamentos recorrentes e intrusivos (flashback);
Pesadelos;
Comportamento como se o evento ocorresse novamente.
A insensibilidade afetiva, identificável por:
Diminuição expressiva no interesse em realizar atividades comuns ou significativas, especialmente se tem alguma relação com o evento traumático.
Sensação de alheamento em relação às outras pessoas.
Restrição afetiva. Incapacidade de amar.
Ativação psicomotora
Hiperatividade.
Distúrbios do sono.
Dificuldade para concentrar-se.
Irritabilidade.




Foto: http://www.dailymail.co.uk/news/article-1244984/I-stopped-arms-aching-Horrific-confession-11-year-old-sadist-tortured-young-boys.html

Para ler mais: Double the jail term for torture brothers, say children's charities

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4 Comentários:

Blogger Unknown disse...

Nossa, chocante! Incrível o que um mal ambiente pode fazer com as pessoas!

Gostei muito do seu blog! Estarei sempre visitando!

23 de janeiro de 2010 às 17:54  
Blogger esqueci a ana (ex-ana) disse...

Relatos assustadores. Infelizmente muitas vezes explorados unicamente na vertente sensacionalista (quanto pior melhor para vender). São raras as vezes em que estes casos são apresentados de forma a que os orgãos de decisão competentes (Segurança Social, Serviços de Apoio, Polícias, Tribunias)e a sociedade contribuam de alguma forma para os evitar, denunciar e penalizar. Reproduzo duas frases do post da Vanessa:
"A família já estava no radar dos serviços sociais há 14 anos" ( e não foi possível em mais de dez anos antecipar estes comportamentos monstruosos?)
"Quando questionados sobre o porquê de terem torturado as outras duas crianças, o irmão mais velho respondeu "Porque não tinha nada para fazer".

23 de janeiro de 2010 às 19:56  
Blogger Vanessa disse...

Obrigada pelos comentarios. Realmente esta historia choca mas infelizmente nao 'e a primeira que lemos. Lembro-me do caso que repercutiu ate mesmo no Brasil, do assassinato do bebe James Bulger em 1993, cometido por 2 criancas de 10 anos, que premeditaram e realizaram o crime com requintes de violencia. O que me chamou a atencao neste caso 'e o detalhamento da disfuncao familiar, que finalmente os meios de comunicacao parecem entender como fundamental na criacao de um psicopata (antissocial), fugindo dos estereotipos da mae dominadora e psicopatizante.

25 de janeiro de 2010 às 13:01  
Anonymous Anônimo disse...

Tirando a cureldade e doença mental dos autores do crime, fica também um pouco da importância de ensinar as crianças a terem certas reações diante do perigo.

Essas crianças, embora apenas crianças, poderiam ter escapado de seus agressores se tivessem tido a atitude certa, e isso inclui confronto físico mesmo, defesa pessoal.

Uma criança educada, disciplinada e orientada em uma arte marcial por exemplo, pode escapar de uma situação assim, fazendo uso da força, isso é fato.

No mundo de hoje todos devem se preparar para o pior, pois o perigo mora ao lado e ser submisso e passivo não é a solução.

27 de julho de 2010 às 14:47  

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