sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Perspectiva Sistêmica em Psiquiatria e Psicologia

Comportamentos neuróticos


Os sintomas como táticas das relações humanas (J. Haley, 1963)

O aspecto crucial de um sintoma é a vantagem que proporciona ao paciente no que respeita ao controle do que sucede na relação com o outro. O sintoma supõe um considerável sofrimento subjetivo mas algumas pessoas preferem esse sofrimento a viverem num mundo de relações sociais sobre as quais têm escasso controle”.

Pacientes fóbicos, por exemplo, conseguem impor comportamentos à família que pacientes normais jamais conseguiriam. O sintoma exige alguma aprendizagem e também implica em mecanismos de reforço.

Ambivalência em relação ao tratameto – o paciente é reticente em abandonar o sintoma em prol da melhoria.

Transtonos psiquiátricos abordados numa perspectiva sistêmica:

Esquizofrenia (time line)

1950 – mãe esquizofrenogênica
1956 – Double bind
1960 – Diferenciação do self
1961 – Asylums (E. Goffman)*
1972 – A influência da vida familiar na evolução da esquizofrenia
1973 – On being sane in insane places (Rosenhan)**
1977 – Modelo da vulnerabilidade\estresse (Spring and Zubin)***
1981 – Altos níveis de EE e recaídas
1985 – estudos finlandeses sobre genética e adoção
1985 – grupos multifamiliares (Faloon, Left, Anderson, McFarlane)

* Asylums: Essays on the Condition of the Social Situation of Mental Patients and Other Inmates é uma coleção de quatro ensaios de Erving Goffman que teorizam a "institucionalização total" e o processo pelo qual esforços são exigidos para manter o padrão de comportamentos previsível e regular dos "guardas" e "captivos", sugerindo que muitos aspectos de tais instituições servem à função ritual de garantir que as duas classes de pessoas saibam seus papéis e funções sociais, "institucionalizando-as". O livro conclui que o ajustamento dos internos aos seus papéis tem tanta importância quanto curá-los.

**"On Being Sane in Insane Places" foi um experimento sobre a validade do diagnóstico psiquiátrico conduzido pelo psicólogo David Rosenhan em 1973 (vide referências). O estudo envolveu o uso de voluntários saudáveis ou "pseudopacientes" que brevemente simulavam alucinações auditivas em uma tentativa de conseguirem ser internados em 12 hospitais psiquiátricos em vários locais dos EUA. Todos foram admitidos e diagnosticados. Após a admissão, os pseudopacientes agiam normalmente e diziam à equipe que se sentiam bem e não apresentavam mais alucinações. A equipe dos hospitais em questão não detectou nenhum dos pseudopacientes e tratava-os todos como exibind sintomas de doença mental. Diversos permaneceram internados por meses. Todos foram forçados a admitir que tinham doenças mentais e a tomar drogas antipsicóticas como  condição para sua alta médica.
O estudo concluiu que não se consegue distinguir os sãos dos doentes nos hospitais psiquiátricos e ilustrou os perigos da despersonalização e rótulos que infestavam as instituições psiquiátricas. O estudo também sugeriu que o uso de instituições de saúde mental comunitárias que se concentrassem em problemas e comportamentos específicos ao invés de rótulos seria uma solução e recomendou que trabalhadores da área da saúde mental deveriam estar mais cientes da psicologia social de suas funções e estabelecimentos.

*** O Modelo Vulnerabilidade e Estresse é uma teoria psicológica que explica o comportamento como resultado de fatores biológicos\genéticos (nature) e experiências de vida (nurture). O termo diátese, comum na leitura destes textos, é utilizado para se referir à predisposição à uma condição anormal ou doentia.





Programas psico-educacionais
McFarlane (1991, 1992, 1994)
Programas para reduzir o nível de EE, habitualmente juntando famílias com o mesmo problema para que percebam a diferença entre doença e doente. Geralmente grupos de familiares (associações) partilham experiências e estratégias.

Transtorno Bipolar

Altos níveis de EE foram relacionados a maiores índices de recaídas.
Casal bipolar: características complementares dos cônjuges (Y. Davenport, 1995):

No caso das famílias ou casais bipolares, nota-se uma organização que tende a perpetuar o comportamento derrotista, caos e desorganização. A inabilidade dos pais em lidar com seus próprios desejos e necesidades e a continuada repressão do luto e consciência de seus próprios sentimentos são transmitidos aos filhos. O relacionamento formado entre o casal, devido às suas experiências no começo da vida, leva-os a continuar a negação dos sentimentos. Por outro lado, uma parte do mecanismo circular de continuada repressão da raiva, luto e afeto, mesmo durante os períodos de melhoria psíquica, reforçam a sensação de que a expressão de sentimentos não é segura.

Consequentemente, a repressão resulta em um estado crônico de caos com aspectos destrutivos, uma condição que se tornal uma força de ligação estável na dinâmica da família bipolar. Apesar do medicamento, muitos casais e famílias bipolares continuam a levar a vida como se não existisse nada a não ser o desespero da depressão ou a euforia da fase maníaca. Não existe um meio termo. A expressão de seus afetos permanece insegura e, dentro do sistema familiar bipolar, existe um continuado complô para negação dos sentimentos. Consequentemente, a comunicação apropriada de sentimentos é provavelmente experimentada como perda de controle que pode ser destrutiva aos relacionamentos íntimos. A manobra defensiva para evitar confrontamento observada na dualidade bipolar é a falta de vontade de replicar sentimentos de raiva e luto sobre um assunto não resolvido de perdas parentais ou desapontamentos (Davenport et al, 1979 in JF Clarkin et al, 1988).

Depressão

The London Depression Trial (Leff et al, 1991; Jones and Asen, 2000). Comparação de fármacos antidepressivos versus Terapia cognitivo comportamental e terapia sistêmica de casa.


Referências:

ResearchBlogging.org

Manning, P. Erving Goffman (1922-1982). Disponível em http://danm.ucsc.edu/~abtollef/Physical_Poetry/Goffman%20Encyclopedia%20Soc%20Theory.doc.

Rosenhan, D. (1973). On Being Sane in Insane Places Science, 179 (4070), 250-258 DOI: 10.1126/science.179.4070.250

Zubin, J., & Spring, B. (1977). Vulnerability: A new view of schizophrenia. Journal of Abnormal Psychology, 86 (2), 103-126 DOI: 10.1037/0021-843X.86.2.103

JF Clarkin, GL Haas, ID Glick. Affective disorders and the family: assessment and treatment. The Guilford Press, 1988, pp182-183.

LEFF, J. (2000). The London Depression Intervention Trial: Randomised controlled trial of antidepressants v. couple therapy in the treatment and maintenance of people with depression living with a partner: clinical outcome and costs The British Journal of Psychiatry, 177 (2), 95-100 DOI: 10.1192/bjp.177.2.95

Foto: http://www.hearingvoices.org.uk/info_professionals_stress.htm

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