sábado, 12 de dezembro de 2009

Autismo: Quem é o bobo nessa história?

O artigo abaixo de Erivelton Rodrigues  foi publicado no Correio de Uberlândia Online. Acho que o texto merece ser lido e repassado, motivo pelo qual o transcrevo aqui.

Autismo: Quem é o bobo nessa história?

Reflexão
Erivelton Rodrigues
07/12/2009

Você já ouviu falar em autismo? Um dia desses,grande parte dos brasileiros ouviu e de uma forma no mínimo leviana.

"Se nós fossemos pessoas melhores levaríamos a Bozena ao médico. Agora me ocorreu que eu tenho a impressão de que a Bozena é autista. Lembra de um filme que a gente viu com Tom Cruise, que o irmão era meio bobo, era autista?"

Esta frase foi pronunciada durante a programação da maior emissora de televisão do país. Trata-se de uma fala do personagem Mário Jorge do programa humorístico "Toma lá, dá cá", vivido pelo ator Miguel Falabella, que também assina a obra como autor.

No diálogo, Mário Jorge depreciava a empregada Bozena, vivida pela atriz Alessandra Maestrini.

Pois bem, está no dicionário: "Bobo: Pessoa que quer divertir os outros com trejeitos, caretas e ditos tolos". Também está no dicionário o significado do termo autista: "Pessoa que sofre de autismo" que por sua vez quer dizer "Estado mental caracterizado pela tendência a alhear-se do mundo exterior e ensimesmar-se".

E vamos além: O autismo é uma desordem comportamental que geralmente impede que a pessoa que sofre dela desenvolva relações sociais normais, se comportando de maneira compulsiva e ritualista. Não se trata de um retardo mental ou lesão cerebral como muitos pensam, embora vários autistas apresentem também estes problemas.

Os sinais do autismo costumam aparecer antes dos três anos de idade e sua causa é desconhecida, apesar de haver vários estudos como tentativas de encontrá-la.

Pode ocorrer atraso na iniciação da fala de uma criança autista com relação a outras crianças da mesma faixa etária de idade. A criança autista costuma se isolar, não por estar desinteressada por relacionamentos com outras pessoas mas por ter dificuldade em iniciar, manter e terminar uma conversa.

Ela não possui o hábito de abraçar, olhar no olho das outras pessoas e ao falar pode ser que o faça de forma diferente ou que não o faça, algumas vezes por não poder, outras por não querer.

Também podem ser encontrados nos indivíduos com autismo,outros sintomas tais como: Risos e sorrisos inapropriados, resistência a mudar de rotina, insistência com gestos idênticos, pequena resposta aos métodos normais de ensino, aparente insensibilidade à dor, repetição de palavras ou frases, hiper ou hipo atividade física, angústia sem razão aparente, não responde às ordens verbais atuando como se fosse surdo, dificuldade em expressar suas necessidades empregando gestos ou sinais para os objetos em vez de usar palavras,etc.

Existem vários graus de autismo, podendo haver portanto, autistas mais sociais, intelectuais e por diversas vezes não muito diferentes das pessoas tidas como normais. O diagnóstico da doença é feito por meio de observação.

Enfim, tentemos responder agora, a pergunta feita no título: Quem é o bobo nessa história? Existe virtude em instigar julgamentos preconceituosos utilizando de um meio de comunicação de massa, de concessão pública, em nome de uma audiência conquistada à qualquer custo? O ator pediu desculpas pelo ocorrido, mas que não se confunda o ato de pedir desculpas por uma falha, com o ato de apagá-la.

Bobo o autista? Não. Bobo, o artista.


Para ler o original, clique aqui.

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2 Comentários:

Blogger esqueci a ana (ex-ana) disse...

Li esta refer~encia a acrescento um episódio que se passou há algum tempo no partamento português. Vários deputados referiam-se a outros como sendo autistas às suas propostas ou em relação a alguns factos. Sei que uma associação de pais se dirigiu publicamente à Assembleia no sentido de lhes chamar a atenção para a desadequação do termo e pelo que poderia significar em relação à doença. Pessoalmente concordei com a crítica mas alguém me chamou a atenção que no nosso discurso também muitas vezes dizemos que o outro fica 'mudo' ou é 'surdo' às nossas afirmações, ou fica 'cego' de raiva. Nem sempre é fácil distinguir o que é meramente 'politicamente correcto', o que é um erro ou o que resulta de hábitos de discurso que herdámos (mas estamos sempre a tempo de emendar).
No caso referido autista=bobo pelo que é clara a ofensa. Outros à em que para além da forma é preciso ver o conteúdo e contexto.
Mais uma vez obrigada pela chamada de atenção

12 de dezembro de 2009 às 13:09  
Blogger Vanessa disse...

Concordo com vc ex ana, no que diz que muitas vezes 'e costume usar um linguajar psiquiatrico/coloquial no dia a dia, sem saber. Nao sei se sabes mas os termos "idiota" e "imbecil", hoje palavras de baixo cunho tao comuns no dia a dia derivam de expressoes psiquiatricas que definiam certos tipos de retardo mental. Como o tempo, o estigma se tornou muito pesado e estas palavras foram abandonadas. Tem de se tomar cuidado para evitar que sintomas se tornem ferramentas para ferir os outros.

14 de dezembro de 2009 às 11:21  

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