quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Psicologizando

Este post foi retirado do site Psicologizando e Ricardo Pina, psicólogo português e dono do blog, é seu autor. Gostei muito do artigo e como tenho discutido a maternidade em uma perspectiva antropológica, vou colocá-lo aqui também.


Além deste texto, recomendo aos colegas profissionais de saúde mental a leitura do post Psicologia\Psiquiatria, no qual o psicólogo faz duras críticas (polêmicas, mas com bom fundamento) à prática psiquiátrica atual e sua relação com as demais profissões da saúde mental.

Aqui vai o texto

"A Função Materna: Perspectiva de Winnicott


A teoria psicanalítica de Donald Woods Winnicott permite que se atente para uma forma particular de compreender a constituição do ser como uma entidade unitária - «o si mesmo» -, assim constituindo uma importante mudança de paradigma em relação à psicanálise tradicional. Essa «constituição do ser» está, para Winnicott, menos ligada ao Édipo, mas fundamentalmente assente na relação de identificação primária da mãe com o seu bebé.

Assim, de acordo com Winnicott, o ser humano parte de um estado de não-integração inical, com tendências herdadas para o amadurecimento e com a necessidade de outro ser humano para esse amadurecimento ter lugar. Ele vai precisar de uma mãe-ambiente-continente que se identifique com ele e o ajude na sua integração, ou seja, a perceber-se no tempo e no espaço, reconhecendo-se no seu corpo e na realidade, permitindo uma vivência de omnipotência que é importante, neste início de vida, para combater a ameaça de falta de controle sobre o que se apresenta. A mãe, nesta fase, é um objecto subjectivo, parte do bebé, caracterizando um estado fusional ou de «dois em um». A integração, que tem início na elaboração imaginativa das funções do corpo, vai-se ampliando de acordo com os movimentos do bebé, abarcando também o seu relacionamento com o mundo externo.

Contudo, Winnicott não considerava que a possibilidade de a mãe se tornar o ambiente favorável para o bebé fosse dependente apenas de uma boa condição interna dela. Para o autor, ela precisa, também, de um ambiente que a assegure durante essa fase, o que Winnicott acreditava ser um papel paterno inicial. O pai precisa de sustentar o estado materno de preocupação, precisa de proporcionar à mãe um suporte, impedindo que ela se ocupe com coisas alheias à sua relação com o bebé.

É esse ambiente total - pai e mãe no exercício dos seus papéis - que vai permitir ao bebé o desenvolvimento do seu Eu. Ele assim vai experienciando os seus momentos de tranquilidade e impulsividade. O seu sentido de realidade vai sendo desenvolvido em função da sobrevivência repetida do objecto aos seus impulsos, o que lhe transmite a diferença entre facto e fantasia e, no seu devido tempo, entre realidade externa e interna. O bebé chega, assim, ao estádio do concernimento, no qual descobre a externalidade, percebe-se como um Eu separado de um não-Eu e começa a preocupar-se com as consequências da sua impulsividade. Somente a partir deste ponto poderá este bebé viver o complexo de Édipo, pois agora ele terá a organização interna que lhe permita experienciar a relação com um Outro."

Marcadores: , ,

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial