Mãe a tempo integral ou mulher de carreira?
De acordo com resultados da The British Social Attitudes Survey (BSA), jovens mulheres inglesas preferem abdicar de carreiras para ficar em casa e criar os filhos. A BSA é uma pesquisa conduzida anualmente no Reino Unido pelo National Centre for Social Research desde 1983. Os resultados da última edição foram liberados há 15 dias pelo pesquisador principal, Geoff Dench. A ampla pesquisa inclui tópicos como opiniões políticas e confiança no sistema de governo, saúde, educação, pobreza, meio-ambiente, raça, religião, liberdades civis, imigração, sexo, entre outros. O tópico que me interessou, entretanto foi o da mudança de atitude das mulheres que agora entram no mercado de trabalho.
Vários jornais e outros meios de comunicação noticiaram com certa surpresa os resultados da BSA 2010. Especialmente para a geração que viveu nos anos de 1960 e 70 e lutou bravamente para conseguir salários equivalentes e reduzir a discriminação das mulheres no mercado de trabalho, os resultados podem parecer um ultraje.
O mais interessante é que estes resultados surgem em um contexto político no qual o governo inglês (e isso tem acontecido praticamente em todo o mundo ocidental) tem realizado pressão constante para que jovens mães retornem ao trabalho.
Os números, entretanto, não mentem: O número de mães com crianças menores de 4 anos que acreditam que a vida familiar sofrerá se retornarem ao trabalho cresceu de 21% em 1998 para 37% em 2006. Da mesma forma, o número das que acreditam que o que as mulheres desejam é um lar e filhos cresceu de 15% em 2002 a 32% em 2006. A principal diferença, entretanto, foi no questão a respeito de mulheres e homens ter diferentes papeis na sociedade . Em 2002 apenas 2% das mulheres acreditavam que sim e em 2006, 17%.
Em entrevista à mídia inglesa, Geoff Dench resumiu seus achados dizendo que "jovens mulheres com filhos estão a voltar para os valores tradicionais da divisão de trabalho, vendo os maridos como o chefe e provedor familiar. Tem havido uma valorização de "trabalhos" tradicionais para mulheres na família e na comunidade informal." Dench também disse que a principal faixa etária que tem influenciado a mudança é a de mulheres de 18 a 34 anos, a mesma idade de suas mães e avós quando lutaram pelos direitos trabalhistas iguais aos dos homens.
Além disso, as mulheres que responderam ser as mais felizes, parecem ser as que valorizam o trabalho doméstico, mas também trabalharam fora de casa (principalmente em jornadas flexíveis de meio período).
A polêmica sobre o assunto, como não poderia deixar de ser, foi grande e imediata. Em um artigo na revista Psychologies Magazine, Louise Chunn, editora chefe escreveu: "Eu lutei pelo meu direito de ter uma carreira. Então porque minha filha que se formou em Oxford quer um homem rico para tomar conta dela?" (texto original aqui). No texto, ela escreve:
"Isso (os resultados da pesquisa) é de fato muito polêmico. E para uma mulher como eu, a editora chefe de uma revista com três filhos, é desmoralizante. (...) Eu fui mais do que feliz ao levantar a causa feminista e me tornar uma jornalista de sucesso. Eu sempre assumi que minhas filhas seguiriam meu caminho, mas a minha mais velha, Alice, de 21 anos, após se formar em Oxford, quer arrumar um trabalho mais simples até arrumar um marido. Uma parte de mim pensava que ela estava apenas e me irritar. Mas no fundo sei que ela provavelmente me observou a equilibrar trabalhos estressantes e família e achou tudo muito complicado (...) Tendo crescido a testemunhar nossas dificuldades, (a nova geração) está rejeitando nosso modelo. Talvez elas achem que tenham a liberdade de escolher apenas o melhor dos estilos de vida de suas mães e avós. Alice cresceu como uma feminista lutadora. A diferença é que ela não sente necessidade de se provar uma igual dos homens - ela sempre se viu assim."
Mais lenha na fogueira:
Um estudo recente da Universidade de Kansas (EUA) revela que as pessoas em geral não apenas preferem mães dona-de-casa à mães trabalhadoras, como filhos de mães que ficam em casa são melhor vistos. O estudo, que serviu de base a uma tese de mestrado em psicologia na Universidade, avaliou as percepções que as pessoas têm de mães e seus filhos, baseadas em seu estatus no trabalho. Os resultados evidenciaram que as pessoas tendem a desvalorizar mães que trabalham fora de casa e que elas percebem as crianças destas mães como problemáticas e difiíceis. A tese foi apresentada em janeiro na conferência Society for Personality and Social Psychology.
Segundo Jennifer Livengood, investigadora principal do estudo, pesquisas anteriores mostraram que os indivíduos tendem a gostar mais de mães donas-de-casa do que as que trabalham. Entretanto, poucos estudos avaliaram as percepções de mães que procuram um meio-termo como trabalhar uma jornada flexível ou meio-período. O experimento em questão envolveu estudantes universitários (todos solteiros), cuja grande maioria não tinha filhos (99%). Cada participante ouviu uma de 3 entrevistas de uma mãe que trabalha, uma mãe dona-de-casa e o que os pesquisadores chamaram de mãe meio-termo.
A mãe trabalhadora dizia na entrevista que voltou ao trabalho 2 semanas após o parto e trabalhava mais de 40 horas por semana. A mãe dona-de casa dizia que havia parado de trabalhar após dar à luz e a mãe meio-termo dizia ter tirado 18 meses de licença após o parto e ter voltado ao trabalho em meio-período, gradualmente aumentando sua jornada. Após a entrevista, cada participante assistiu um vídeo de uma mãe e seu filho de 4 anos a completar juntos um quebra-cabeças. Por causa da entrevista anterior, os participantes foram levados a acreditar que o vídeo era ou de uma mãe trabalhadora, de uma mãe dona-de-casa ou da mãe meio-termo. Os participantes então preencheram um questionário que avaliava suas percepções da mãe e da criança (questões como "ela faz um bom trabalho como mãe" e "a criança é bem comportada", além de um questionário que avaliava suas percepções do relacionamento mãe-criança (se eles trabalhavam bem juntos).
Os achados evidenciaram que os participantes não diferenciaram entre a mãe dona-de-casa ou a mãe meio-termo, mas que eles desvalorizavam a mãe trabalhadora em comparação. Além disso, os participantes apresentaram muito mais percepções negativas das crianças e do relacionamento das mães trabalhadoras com seus filhos. Outros achados indicam que os participantes percebem crianças de mães que trabalham como tendo mais problemas de ajustamento e comportamentais e que seu relacionamento é mais frio e problemático.
E o que tudo isso faz neste blog? Acontece que no momento encontro-me em uma encruzilhada da minha vida. O apelo de uma vida familiar tranquila, a cuidar dos filhos pequenos até seus 5 anos de idade, pelo menos, e das tarefas domésticas está a bater em minha porta. E sinto a ressonância dos achados do estudo. Depois de cruzar meio mundo pela minha carreira, estudar e trabalhar diariamente até as 23:00h, viver a solidão de um exílio auto-imposto como sacrifício maior pelo conhecimento, encontrar-me agora em período sabático a curtir uma gestação é uma grande mudança. A culpa pelo fato de estar em casa no momento e não trabalhando é lidada com horas de educação médica continuada e na composição deste blog. A culpa de estar pensando em voltar ao trabalho o mais cedo possível após o nascimento do bebê ainda é pequena, mas sei que vai crescer. Nenhuma decisão foi tomada ainda. Mas as culpas já lá estão, a me amarrar a uma situação, como no conto popular do burro que morreu de fome entre dois montes de feno, sem saber qual comer primeiro.
Acredito que não só eu me encontro numa encruzilhada, como também a sociedade com sua mudança de valores também está indecisa. Durante 20 anos a cartilha dizia que deveríamos sim vencer a todo custo e sacrifício, e o único objetivo era usar sapatos de salto e roupas caríssimas para uma reunião de negócios na qual deveríamos nos sentar na cabeceira. Agora o pêndulo social parece vergar em direção oposta.
Talvez mais do que nos sentirmos obrigadas a trilhar um caminho ou outro, nós temos a ESCOLHA e não a OBRIGAÇÃO de sermos donas-de-casa ou mulheres de carreira. Pode até ser possível termos as duas opções, como indica o estudo de Livengood. O que importa é que hoje possamos trilhar um caminho que venha de encontro às nossas opções e valores sem sermos julgadas a todo instante pela sociedade. Talvez esta seja uma visão um bocado utópica, mas prefiro pensar que no final das contas, a escolha é apenas minha e de minha família. E isso sim, considero avanço social.
Referência:
National Centre for Social Research. British Social Attitudes 26th Report. http://www.natcen.ac.uk/study/british-social-attitudes-26th-report
Kansas State University (2010, February 18). People not only judge mothers based on work status, but also judge their kids. ScienceDaily.
Fotos:
http://bearlyedible.com/wp-content/uploads/2007/08/50s.jpg
ttp://images.essentialbaby.com.au/2009/07/09/624594/working_mum_420w-420x0.jpg
http://www.askamum.co.uk/upload/27119/images/mother-online450.gif
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4__hi73xGaigTe11wniAJrLaxXV_EKQl8Z64XH_kendH2R5_lIgkTyQNDOiyLl7A0qbm1AmpvTe61iZaYwruG4RS6O7oh6LId7q9ZpxJXxfAyOuMIZ-X7X-wMcYVj98W-IS2S1St9pUBQ/s400/rosie.jpg
Vários jornais e outros meios de comunicação noticiaram com certa surpresa os resultados da BSA 2010. Especialmente para a geração que viveu nos anos de 1960 e 70 e lutou bravamente para conseguir salários equivalentes e reduzir a discriminação das mulheres no mercado de trabalho, os resultados podem parecer um ultraje.
O mais interessante é que estes resultados surgem em um contexto político no qual o governo inglês (e isso tem acontecido praticamente em todo o mundo ocidental) tem realizado pressão constante para que jovens mães retornem ao trabalho.
Os números, entretanto, não mentem: O número de mães com crianças menores de 4 anos que acreditam que a vida familiar sofrerá se retornarem ao trabalho cresceu de 21% em 1998 para 37% em 2006. Da mesma forma, o número das que acreditam que o que as mulheres desejam é um lar e filhos cresceu de 15% em 2002 a 32% em 2006. A principal diferença, entretanto, foi no questão a respeito de mulheres e homens ter diferentes papeis na sociedade . Em 2002 apenas 2% das mulheres acreditavam que sim e em 2006, 17%.
Em entrevista à mídia inglesa, Geoff Dench resumiu seus achados dizendo que "jovens mulheres com filhos estão a voltar para os valores tradicionais da divisão de trabalho, vendo os maridos como o chefe e provedor familiar. Tem havido uma valorização de "trabalhos" tradicionais para mulheres na família e na comunidade informal." Dench também disse que a principal faixa etária que tem influenciado a mudança é a de mulheres de 18 a 34 anos, a mesma idade de suas mães e avós quando lutaram pelos direitos trabalhistas iguais aos dos homens.
Além disso, as mulheres que responderam ser as mais felizes, parecem ser as que valorizam o trabalho doméstico, mas também trabalharam fora de casa (principalmente em jornadas flexíveis de meio período).
A polêmica sobre o assunto, como não poderia deixar de ser, foi grande e imediata. Em um artigo na revista Psychologies Magazine, Louise Chunn, editora chefe escreveu: "Eu lutei pelo meu direito de ter uma carreira. Então porque minha filha que se formou em Oxford quer um homem rico para tomar conta dela?" (texto original aqui). No texto, ela escreve:
"Isso (os resultados da pesquisa) é de fato muito polêmico. E para uma mulher como eu, a editora chefe de uma revista com três filhos, é desmoralizante. (...) Eu fui mais do que feliz ao levantar a causa feminista e me tornar uma jornalista de sucesso. Eu sempre assumi que minhas filhas seguiriam meu caminho, mas a minha mais velha, Alice, de 21 anos, após se formar em Oxford, quer arrumar um trabalho mais simples até arrumar um marido. Uma parte de mim pensava que ela estava apenas e me irritar. Mas no fundo sei que ela provavelmente me observou a equilibrar trabalhos estressantes e família e achou tudo muito complicado (...) Tendo crescido a testemunhar nossas dificuldades, (a nova geração) está rejeitando nosso modelo. Talvez elas achem que tenham a liberdade de escolher apenas o melhor dos estilos de vida de suas mães e avós. Alice cresceu como uma feminista lutadora. A diferença é que ela não sente necessidade de se provar uma igual dos homens - ela sempre se viu assim."
Mais lenha na fogueira:
Um estudo recente da Universidade de Kansas (EUA) revela que as pessoas em geral não apenas preferem mães dona-de-casa à mães trabalhadoras, como filhos de mães que ficam em casa são melhor vistos. O estudo, que serviu de base a uma tese de mestrado em psicologia na Universidade, avaliou as percepções que as pessoas têm de mães e seus filhos, baseadas em seu estatus no trabalho. Os resultados evidenciaram que as pessoas tendem a desvalorizar mães que trabalham fora de casa e que elas percebem as crianças destas mães como problemáticas e difiíceis. A tese foi apresentada em janeiro na conferência Society for Personality and Social Psychology.
Segundo Jennifer Livengood, investigadora principal do estudo, pesquisas anteriores mostraram que os indivíduos tendem a gostar mais de mães donas-de-casa do que as que trabalham. Entretanto, poucos estudos avaliaram as percepções de mães que procuram um meio-termo como trabalhar uma jornada flexível ou meio-período. O experimento em questão envolveu estudantes universitários (todos solteiros), cuja grande maioria não tinha filhos (99%). Cada participante ouviu uma de 3 entrevistas de uma mãe que trabalha, uma mãe dona-de-casa e o que os pesquisadores chamaram de mãe meio-termo.
A mãe trabalhadora dizia na entrevista que voltou ao trabalho 2 semanas após o parto e trabalhava mais de 40 horas por semana. A mãe dona-de casa dizia que havia parado de trabalhar após dar à luz e a mãe meio-termo dizia ter tirado 18 meses de licença após o parto e ter voltado ao trabalho em meio-período, gradualmente aumentando sua jornada. Após a entrevista, cada participante assistiu um vídeo de uma mãe e seu filho de 4 anos a completar juntos um quebra-cabeças. Por causa da entrevista anterior, os participantes foram levados a acreditar que o vídeo era ou de uma mãe trabalhadora, de uma mãe dona-de-casa ou da mãe meio-termo. Os participantes então preencheram um questionário que avaliava suas percepções da mãe e da criança (questões como "ela faz um bom trabalho como mãe" e "a criança é bem comportada", além de um questionário que avaliava suas percepções do relacionamento mãe-criança (se eles trabalhavam bem juntos).
Os achados evidenciaram que os participantes não diferenciaram entre a mãe dona-de-casa ou a mãe meio-termo, mas que eles desvalorizavam a mãe trabalhadora em comparação. Além disso, os participantes apresentaram muito mais percepções negativas das crianças e do relacionamento das mães trabalhadoras com seus filhos. Outros achados indicam que os participantes percebem crianças de mães que trabalham como tendo mais problemas de ajustamento e comportamentais e que seu relacionamento é mais frio e problemático.
E o que tudo isso faz neste blog? Acontece que no momento encontro-me em uma encruzilhada da minha vida. O apelo de uma vida familiar tranquila, a cuidar dos filhos pequenos até seus 5 anos de idade, pelo menos, e das tarefas domésticas está a bater em minha porta. E sinto a ressonância dos achados do estudo. Depois de cruzar meio mundo pela minha carreira, estudar e trabalhar diariamente até as 23:00h, viver a solidão de um exílio auto-imposto como sacrifício maior pelo conhecimento, encontrar-me agora em período sabático a curtir uma gestação é uma grande mudança. A culpa pelo fato de estar em casa no momento e não trabalhando é lidada com horas de educação médica continuada e na composição deste blog. A culpa de estar pensando em voltar ao trabalho o mais cedo possível após o nascimento do bebê ainda é pequena, mas sei que vai crescer. Nenhuma decisão foi tomada ainda. Mas as culpas já lá estão, a me amarrar a uma situação, como no conto popular do burro que morreu de fome entre dois montes de feno, sem saber qual comer primeiro.
Acredito que não só eu me encontro numa encruzilhada, como também a sociedade com sua mudança de valores também está indecisa. Durante 20 anos a cartilha dizia que deveríamos sim vencer a todo custo e sacrifício, e o único objetivo era usar sapatos de salto e roupas caríssimas para uma reunião de negócios na qual deveríamos nos sentar na cabeceira. Agora o pêndulo social parece vergar em direção oposta.
Talvez mais do que nos sentirmos obrigadas a trilhar um caminho ou outro, nós temos a ESCOLHA e não a OBRIGAÇÃO de sermos donas-de-casa ou mulheres de carreira. Pode até ser possível termos as duas opções, como indica o estudo de Livengood. O que importa é que hoje possamos trilhar um caminho que venha de encontro às nossas opções e valores sem sermos julgadas a todo instante pela sociedade. Talvez esta seja uma visão um bocado utópica, mas prefiro pensar que no final das contas, a escolha é apenas minha e de minha família. E isso sim, considero avanço social.
Referência:
National Centre for Social Research. British Social Attitudes 26th Report. http://www.natcen.ac.uk/study/british-social-attitudes-26th-report
Kansas State University (2010, February 18). People not only judge mothers based on work status, but also judge their kids. ScienceDaily.
Fotos:
http://bearlyedible.com/wp-content/uploads/2007/08/50s.jpg
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Marcadores: comportamento, psiquiatria da mulher
3 Comentários:
Eu estou vivendo a mesma coisa. Não tenho filhos ainda, mas não me vejo, de forma alguma, trabalhando e estudando o dia todo por muito tempo. Gosto de cuidar da casa, quero cuidar dos meus filhos, quero viver uma vida sem grandes pressões. Gosto de paz. Mas ao mesmo tempo, gosto de aprender, quero entender a natureza, quero compartilhar meus conhecimentos. Fiz Física, depois fui pra Biologia, depois fiz especialização e hoje faço mestrado e dou aula de física. Já escolhi o magistério por ser um trabalho flexível. Mas essa vida continua puxada, exigindo meu tempo, e me impede de viver a paz que aprecio.
Quero casar e ter filhos, morar no interior, trabalhar meio período ou talvez duas vezes na semana. E não sou nenhuma fracassada.
O que achei legal na pesquisa britanica 'e que as mulheres hoje sentem-se mais livres para escolher. Nao somos obrigadas a uma vida amarrada ao pé-da-mesa, bem Amélia... mas também não somos obrigadas a trabalhar só porque o governo assim o quer. Ainda existe algum preconceito tanto quanto à mulher que trabalha quanto à dona de casa (que é chamada de "madame" no Brasil).
Cada um tem o direito de levar sua vida como bem entender, respeitando-se lei e sociedade, claro, e fico feliz de termos a liberdade de ficar em casa na primeira infância dos filhos e poder retornar depois.. ou não. O que importa é a sua felicidade e de sua família.
As britânicas talvez se sintam mais livres, mas eu não sinto essa liberdade. Sinto uma opressão parecida com a que as mulheres de antigamente sofriam, quando só podiam ser donas de casa. Hoje, mudou o algoz, mas não a opressão.
As pessoas se escandalizam e me acham preguiçosa quando digo que quero trabalhar pouco.
Para piorar, o fato de eu sempre ter gostado de estudar fez com que a família esperasse que eu seria uma "grande profissional", o que significa, para as pessoas, trabalhar o tempo inteiro.
Para meus colegas de faculdade, significa fazer vários pós-doc fora do país. Rejeitei um convite de doutorado fora do país e as pessoas (até a psicóloga) acharam um absurdo.
Quero ter o direito de ter prioridades diferentes do usual em minha vida, sem que me achem fracassada ou preguiçosa por isso.
Não me sinto mais livre pra escolher. É pressão de todos os lados.
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